Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

Hipertonia e espasticidade = deformidades

- 29 de abril de 2008

Na primeira foto, Flavia está com 5 anos e brincava de bailarina em nosso apartamento de Moema, em São Paulo. Flavia era uma criança saudável e muito alegre. Gostava particularmente de dançar.

A segunda foto mostra como estão atualmente os pés de Flavia. Ela está hoje com 20 anos e segue em coma vigil. São 10 anos assim. Nem mesmo a fisioterapia diária e o uso constante de órteses, contêm as deformidades que vão se instalando em seu corpo, por causa da hipertonia e da espasticidade. A rigidez causada pela hipertonia também deformou as mãozinhas de Flavia.

Para quem não sabe, a hipertonia ou espasticidade, é a rigidez do corpo causada por um dano cerebral. E foi o que aconteceu com Flavia. Seu cérebro foi seriamente danificado pelo tempo que ficou embaixo dágua, presa aos cabelos pelo ralo da piscina do condomínio onde morávamos.
MEU CORAÇÃO MACHUCADO.

Esta noite não dormi e tenho os olhos ardendo como se me tivessem jogado areia neles. Mas pior que os olhos, está meu coração, machucado e dolorido por ter mais uma noite presenciado o sofrimento de minha filha. Flavia passou mal esta noite. Outra vez. Embora eu não relate aqui para não despertar sentimentos de pena nas pessoas, algumas noites de Flavia são bastante difíceis. Por exemplo, devido ao excesso de medicação, ela tem indisposição estomacal e às vezes vomita, ou, como foi o caso desta noite, ela entra em crise de hipertonia. Quando isto acontece, Flavia fica muito rígida, transpira em excesso e seu corpo estremece como se estivesse levando choques. No rosto, uma expressão de dor, e mesmo inconsciente, ela geme. Dói-me muito ver isto. O que fazer? Já devidamente orientada pelo neurologista de Flavia, aumento a medicação para espasticidade e espero a crise passar. Esperar é o que tenho feito nestes 10 anos. Esperar que Flavia melhore, esperar pela punição dos culpados pelo acidente que a deixou assim. Esperar. Esperar.

As pessoas que acompanham este blog sabem que tenho a preocupação de não despertar pena nas pessoas, e não é este absolutamente o objetivo deste post, porque pena é um sentimento que não me faz falta. O objetivo deste post é mostrar no que a negligência de terceiros pode transformar nossas vidas, e lhes dizer que mesmo com os olhos ardendo e o coração doendo, vou continuar meu protesto contra a lentidão da justiça em condenar os responsáveis pelo acidente que tirou a saúde de minha filha. Mesmo com os olhos ardendo e o coração doendo, vou continuar gritando por justiça para Flavia. E que a justiça em Brasília, para onde o processo de Flavia está seguindo, não nos faça mais esperar. Nove anos de espera na justiça de São Paulo, já deveriam bastar. É preciso que a justiça para Flavia aconteça já.

Talvez vocês se perguntem porque não coloco Flavia em uma clínica ou hospital e a deixe lá. Talvez pensem que fosse essa uma solução para o desgaste físico e emocional que os cuidados com um ente querido nessas condições pode trazer a qualquer pessoa. A essa eventual pergunta eu responderia:

- Porque o desgaste físico e emocional pelo qual venho passando nesses 10 anos, seria menor do que o desgosto que eu sentiria ao ver minha filha vivendo em um ambiente hospitalar, onde existem cuidados médicos, mas pouquíssimo ou nenhum calor humano. E de calor humano, todos nós, e ainda mais nas condições em que ficou Flavia, é do que mais precisamos.

Quero agradecer a todos que por aqui passam e deixam seus comentários. Muito obrigada aos que linkan o blog de Flavia pois o link é um importante meio de divulgação de sua história. Peço a compreensão de vocês, pois não tenho conseguido retribuir a todas as visitas e comentários por absoluta falta de tempo.

Até o próximo post.

E os réus continuam querendo ganhar mais tempo

- 25 de abril de 2008
Como tenho dito aqui em posts anteriores, o processo de Flavia está a caminho de Brasília. Esta decisão é oficial e publicada no Diário Oficial de São Paulo. Estou em contagem regressiva, aguardando que meu advogado diga: - Odele, o processo de Flavia, finalmente chegou ao Superior Tribunal de Justiça em Brasília. Tão logo esta notícia me seja dada, o que espero aconteça em aproximadamente 30 dias, vou pedir a colaboração de vocês para uma nova blogagem coletiva. No momento adequado estarei passando mais informações.

O que me deixa perplexa, é que apesar da gravidade do acidente e mesmo tendo se passado todo esse tempo, – NOVE ANOS!!! – em que luto na justiça paulista por uma indenização adequada para os cuidados com Flavia, os réus do processo de minha filha continuam querendo ganhar mais tempo, mais do que já ganharam. Jacuzzi do Brasil e Condomínio Jardim da Juriti continuam se esquivando às suas responsabilidades e apresentando agravos aos recursos de Flavia, com a nítida intenção de ganharem tempo, de protelar ainda mais uma decisão final, mesmo sabendo que o processo dela vai mesmo, ser julgado em Brasília. Mas ainda assim, os réus tentam com seus agravos, ganharem mais tempo, embora saibam que o tempo que eles já ganharam, Flavia perdeu.

Mesmo com as evidências da responsabilidade dos réus, mostradas na perícia técnica feita na piscina, chegam os réus Jacuzzi e Condomínio, ao absurdo de com suas manobras protelatórias alegarem em seus agravos que sou culpada pelo acidente com minha filha, por não estar com ela na piscina, no momento em que o ralo lhe sugou os cabelos e a prendeu embaixo dágua. Ora, Flavia, tinha 10 nos, altura de 1,50m e a piscina onde nadava, tinha 95 cm de profundidade. Além disso, Flavia sabia nadar com desenvoltura e não estava sozinha na piscina, mas acompanhada de 3 adolescentes, o irmão de 14 anos, e dois amigos dele, ambos de 15 anos. Mas basta nos virarmos de costas por alguns minutos para que um sistema de sucção, funcionando de forma irregular, com um motor super potente e totalmente desproporcional ao tamanho da piscina, como aquele existente na piscina do condomínio onde Flavia nadava, cause uma tragédia da proporção desta que a deixou em coma vigil irreversível.

É lamentável, a postura do Condomínio Jardim da Juriti, que insiste ao longo dos anos em isentar-se de sua responsabilidade no acidente que vitimou Flavia. E lamentável que empresas do porte da Jacuzzi do Brasil se preocupe apenas em auferir lucros na venda de seus produtos, não se importando com as vítimas de acidentes causados por seus sistemas de sucção, vendidos sem a devida orientação técnica e alertas sobre os riscos que um equipamento fora dos padrões técnicos adequados, possa causar aos usuários da piscina onde esse equipamento for instalado.

Por uma melhor qualidade de vida para Flavia, esperemos que em Brasília, a Justiça mesmo que tardia, se faça. Mas não vamos esperar de braços cruzados. Conto com vocês para mostrarmos aos juízes de Brasília, que Flavia já não conta só com a mãe dela nesta luta, mas conta também com muitos amigos que solidários conosco, não pactuam com a negligência, tampouco com a impunidade.

Muito obrigada e até o próximo post.

RISCOS DO COTIDIANO - PISCINAS

- 23 de abril de 2008
No RJ, Corpo de Bombeiros treina guardiões para piscinas de condomínio
(Foto retirada de minha entrevista para a revista "Condomínio Segurança"


Continuação do post anterior.
Odele chama a atenção de síndicos e administradores de condomínios quanto à correta instalação do sistema de sucção de água da piscina. "Mas não basta apenas verificar se a instalação está correta. É preciso que haja manutenção e fiscalização periódicas desse sistema. Por sua vez, o condomínio tem por obrigação exigir que o fabricante de seu sistema de sucção faça constar em seus manuais, por ocasião da venda do produto, orientação sobre a correta instalação do sistema e possíveis riscos de um eventual superdimensionamento" diz Odele.

LEGISLAÇÃO.
A maioria dos estados brasileiros não possui legislação em relação à instalação e à manutenção das piscinas, tampouco normas de segurança para prevenir qualquer tipod e acidentes. " No que
tange à segurança, não existe nenhuma norma específica no Rio Grande do Sul, a não ser normas de engenharia quanto à resistência de matérias e outros afins", afirma o Major Teixeira, Entretanto, ele recomenda:"Não existe obrigatoriedade, porém é conveniente que exista um kit de primeiros socorros e especialmente uma pessoa com habilitação para atuar como salva-vidas"

No Rio de Janeiro, o Decreto 4.447/81 exige o registro de piscinas de condomínios, clubes e escolas junto ao Corpo de Bombeiros do Estado, além de instaurar medidas de prevenção nas mesmas. "De acordo com a lei, o kit de primeiros socorros deverá estar próximo à piscina, e o Guardião de Piscinas é a pessoa treinada pelo Grupamento Marítimo para realizar salvamentos e reanimação cardiopolmonar no local", explica o capitão Mário Verdine, do 1. GMAR em Botafogo.
RALOS MAL DIMENSIONADOS PODEM CAUSAR MORTES.

Entre Dezembro de 2007 e Fevereiro de 2008, devido a denúncias de moradores, frequentadores de clubes e guardiões de piscinas, foram notificadas 55 piscinas somente no 1. GMAR. Destas, 21 tiveram de ser interditadas. O motivo das interdições é de não haver pessoas habilitadas para trabalhar nas piscinas, não ter o kit de primeiros socrros, não ter grades, explica Verdini.

As exigências que não são cumpridas pelo condomínio podem, além de colocar em risco os frequentadores das piscinas, provocar consequências legais para a administração. "Os síndicos, querendo economizar para o condomínio, desativam este tipo de serviço retirando o guardião das piscinas. Como consequência, eles desacatam uma lei estadual e podem responder por isso, piorando se houver um incidente, seja ele fatal ou não, no estabelecimento", alerta o capitão.

Débora Lapa

Este adendo é meu:
Se você mora em um prédio de condomínio, cobre do síndico fiscalização periódica na piscina.Lembre-se que acidentes em piscinas, muitos deles graves ou fatais, aconteceram por falta desse cuidado básico por parte dos condomínios, clubes, parques, moteís.....
Até o próximo post.

PISCINAS DE CONDOMÍNIOS = LAZER E PERIGO

- 19 de abril de 2008
Foto retirada de minha entrevista para a revista "Condomínio Segurança"

NOTA: Caso Isabella Nardoni, a criança brasileira, assassinada no dia 29 de Março de 2008. Os assassinos? Segundo a polícia de São Paulo, o pai e a madrasta. A Revista Veja desta semana traz um artigo especial sobre o caso que chocou o país. Leia o artigo de Veja, em sua íntegra, no link do blog Hippos.

O texto abaixo foi copiado na íntegra da Revista CONDOMÍNIO SEGURANÇA, de Porto Alegre – RS, Ano 1 No.3, Edição Março/Maio de 2008 e resulta da entrevista feita comigo sobre segurança nas piscinas de condomínios. A responsável por esta entrevista foi a jornalista Débora Lapa, a quem agradeço.

Como a reportagem é um tanto longa e para não cansar o leitor, vou transcrever a entrevista em partes.

PARTE 1.
“As piscinas são grande atração em épocas de temperaturas altas, quando os adultos são incentivados a aproveitar as áreas comuns do condomínio e a garotada fica inclinada a passar o dia inteiro dentro da água. Entretanto, os cuidados com a piscina, preocupação recorrente somente no verão, devem ser constantes durante o ano todo para prevenir acidentes na alta temporada.

Obras e readequações que começam a ser feitas na baixa temporada devem atentar para os riscos que poderão se apresentar quando o uso da piscina é intenso. O Major Humberto Teixeira, do Grupamento Busca e Salvamento, do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, alerta quanto a incidentes envolvendo quedas e ferimentos em bordas. “O piso externo à piscina, por estar geralmente molhado, apresenta a possibilidade de escorregões. Por isto ele deve ser constituído de material que diminua esse evento”, explica. Apesar de parecerem inofensivas, as quedas podem representar lesões físicas graves.

RALOS DE PISCINAS.
Poucos conhecem o problema, mas o mal dimensionamento dos ralos de piscinas representa grande perigo. O caso de Flavia, em coma há mais de uma década, chama a atenção para esse tipo de acidente. Em Janeiro de 1998, a menina, que tinha 10 anos, nadava na piscina do condomínio onde morava, em São Paulo, com o irmão de 14 anos e mais dois amigos. Ao mergulhar e se aproximar do ralo, Flavia teve seus cabelos sugados e ficou presa. Conforme a mãe, Odele Souza, a menina foi resgatada pelo irmão com vida, mas sofreu lesões cerebrais graves e encontra-se em coma vigil irreversível, ou seja, apesar de apresentar reações básicas de reflexo, como abrir e fechar os olhos, ela está inconsciente.

Odele documenta em seu blog Flavia, Vivendo em Coma, casos similares ao de sua filha para alertar sobre esse perigo e evitar tragédias futuras. “Acidentes com ralos de piscinas são mais comuns do que se pensa”, diz Odele. ”Podem representar grandes riscos para os usuários, adultos ou crianças, mas os exemplos que eu tenho visto mostram que as crianças são as maiores vítimas”.

O último caso documentado na imprensa brasileira, ocorreu em outubro de 2007, em Conde, litoral Sul da Paraíba. (*) Um menino de cinco anos morreu após ficar preso no sugador da piscina. Em fevereiro do mesmo ano, outra criança faleceu em um clube de Araçatuba (**), em São Paulo, pelo mesmo motivo. Segundo relatos de usuários do clube ele teria sido sugado pelo ralo da bomba de sucção da piscina, que estaria ligada no momento em que ele nadava...."

Os asteriscos do texto são meus e estão aqui explicados:

(*) Acidente documentado no post deste blog do dia 21.01.2008. Para ler, clic AQUI.
(**) Acidente documentado no post deste blog do dia 07.09.2007. Para ler, clic AQUI.

Continua no próximo post.
Um abraço.

BLOGAGEM COLETIVA - CONTRA O ANALFABETISMO

- 18 de abril de 2008

Fiquei sabendo que o blog Saia Justa está organizando Blogagem Coletiva contra o analfabetismo e resolvi participar.

No Brasil o analfabetismo realmente é gritante, notadamente nas regiões Norte e Nordeste do país. Muitas iniciativas privadas, ONGs que promovem a alfabetização solidária, trabalham na tentativa de resolver esse grave problema social do Brasil, o que é louvável, mas além disso sou de opinião que deveríamos cobrar de forma veemente do governo, programas e ações eficazes no combate ao analfabetismo.

Seria preciso que a educação passasse a ser considerada um valor fundamental, não só para os governos mas como para as próprias pessoas. E nisto, mais uma vez a mídia, principalmente a televisão, falha, se omite e não cumpre seu papel social de incentivar a educação, mostrando às pessoas, com campanhas por exemplo, que saber ler e escrever pode mudar suas vidas para melhor, inclusive dando-lhes condições de exercer a sua cidadania, pois somente através da alfabetização e da educação ficarão sabendo de seus direitos e deveres. Mas não é só no Brasil. No mundo inteiro o analfabetismo é muito grande e seu combate deveria ser prioridade absoluta de qualquer governo. Em não sendo, cabe a nós cobrar isso deles.

Nota: Flavia, a caminho de Brasília. Acompanhe, no blog Adesenhar, de Portugal

SIDA/AIDS e AFETIVIDADE

- 15 de abril de 2008
Dica: Flavia, a caminho de Brasília. Acompanhe, no blog Adesenhar, de Portugal.

Faço uma pausa nos meus posts sobre a causa de Flavia para, junto com outros blogs amigos escrever algo sobre a SIDA/AIDS, com a intenção de alertar e desmistificar a doença. Esta foi uma solicitação de Raul, do blog Sidadania, cuja leitura eu indico por se tratar de um blog que nos fornece informações preciosas sobre a doença, como por exemplo, formas de contágio, prevenção e tratamento. E não só. Para saber mais, visite o Sidadania.

Tendo em vista os excelentes textos sobre SIDA/AIDS publicados por Raul e Paulo, respectivamente autor e colaborador do Sidadania, prefiro abordar aqui o aspecto da afetividade e o que penso ser a sensação de dor de quem foi infectado, e de como isto também pode afetar a vida das pessoas que estão à sua volta, principalmente familiares e amigos.

Acredito que podemos minimizar a dor dos infectados pelo virus da SIDA/AIDS,
pela forma como nos relacionamos com eles. Tratá-los com afeto, mas não com pena. Estarmos prontos para ajudar, para auxiliar, mas não fazer tudo por eles. Demonstrar que não só nós somos importantes para eles, como eles também o são para nós. E estarmos próximos em todos os sentidos. Estar próximo de um infectado pelo virus da SIDA/AIDS para mim, inclui não só ler e me informar sobre a doença, mas interagir com esse infectado, para podermos sair da teoria e passarmos à prática. Se a pessoa estiver próxima, conversar e ouvir sobre seus receios e anseios e proporcionar-lhe o prazer do toque com longos abraços. Certamente, esse contato também nos beneficiará pois será uma troca. De idéias, experiências afeto, emoções....Uma troca.

Um abraço a todos.

CASO FLAVIA: AINDA TENTANDO A MÍDIA

- 8 de abril de 2008
Desculpem se por algumas vezes, ou quem sabe muitas vezes, eu lhes pareça repetitiva com a história de Flavia. Venho tentando ao longo de mais de um ano de existência deste blog – e assim vou continuar - ou pelo menos tentar, dizer as mesmas coisas com palavras diferentes. Hei de encontrar essas palavras, para continuar firme na decisão de usar este blog para denunciar a NEGLIGÊNCIA e a IMPUNIDADE que caracterizam a história de minha filha. Vocês que visitam e comentam neste blog têm sido um precioso apoio para mim e Flavia, e através de comentários e posts, me fornecem palavras, quando as minhas já parecem gastas.

Muitos de vocês têm escrito sobre Flavia e sempre que oportuno, vou reproduzir aqui o que vocês escrevem, pois com isto, entendo eu, além de mostrar solidariedade para comigo e minha filha, vocês exercem conosco, a cidadania de todos nós. Foi assim no post anterior, escrito por Saramar Mendes. E é assim nestas palavras escritas pela jornalista brasileira Maristela Bairros do blog Clinica da Palavra, no seu post do dia 16 de Dezembro de 2007, dia em que Flavia completou 20 anos, 10 dos quais passados em coma vigil. Neste texto, parcialmente transcrito aqui, como vocês podem constatar, Maristela fala da dificuldade que tem sido conseguirmos que a mídia convencional dê atenção ao caso de Flavia, restando a nós, a mídia dos blogs, que felizmente tem se mostrado forte e solidária. A mídia convencional, algumas delas citadas aqui por Maristela, não tem entendido que a lentidão da justiça e o perigo dos ralos de piscinas, sejam assuntos importantes o suficiente para merecer da mídia, a atenção que buscamos.

Com vocês, o texto de Maristela:
“16.12.07
Bom dia, Flavia!
A história da tragédia de Flavia está detalhadamente relatada no blog que sua mãe, Odele, criou, para dar voz a quem há dez anos está impedida de se expressar por qualquer meio, vítima de um ralo de piscina que sugou seus cabelos e seu direito a uma vida normal. Não vou relatar aqui. É só acessar o site e ler. "Quem tiver ouvidos de ouvir, ouça".

Hoje, estamos juntando os gravetos das vozes individuais de cada blog para tentar, acima de tudo, fortalecer o todo e, quem sabe, falando em coro, sensibilizar os que detêm o poder de dar uma decisão favorável a uma garota que completou, neste domingo, 20 anos sem ao menos poder retribuir os votos de parabéns que tantos lhe mandaram.

Um acidente não escolhe a vítima. Qualquer um de nós poderia estar tanto no lugar de Flavia quanto no de Odele e sua família. Mas ninguém gosta de pensar nisso. A gente empurra as possibilidades ruins para longe, como se isso fosse suficiente para nos proteger e evitar o ruim. E não há como criticar esta atitude. Normal.

O que não acho normal é o silêncio das mídias diante de um fato que, evidentemente, é notícia. Seria um acovardamento diante de uma empresa capaz de pagar espaços e anúncios? Seria uma incapacidade editorial de enxergar o assunto não só como capaz de gerar ibope mas também de cumprir a tão propalada responsabilidade social de cada conglomerado que vive do que acontece com a vida alheia e que genericamente chamamos de informação?Conheço o mundo da comunicação por dentro. Mais de 30 anos atuei em rádio, jornal e televisão. Sei das imposições de quem paga para que um veículo se mantenha. Sei das limitações de um diretor de redação e de um editor. Sei que uma pauta pode se realizar por ser realmente boa quanto por simplesmente tapar um buraco ou ser enfiada goela abaixo da redação por uma "determinação superior".

O caso de Flavia merecia, sim, muitas grandes matérias. O perigo que ronda uma piscina, a irresponsabilidade dos que cuidam deste equipamento de lazer, a negligência interesseira de quem fabrica e vende sem se preocupar com o pós-venda e suas conseqüências na vida das pessoas. Tudo isso seria motivo mais que suficiente para virar notícia.

No entanto, não acontece. Enviei pauta para a Revista Cláudia, de quem fui, por anos, colaboradora e mesmo motivo de reportagem, uma revista tão auto-propalada porta-voz do universo feminino. Só recebi uma resposta do atendimento ao leitor. Enviei a Marisa Adan Gil, com quem já tratei diretamente quando colaborava com sua revista Marie Claire: nem resposta. Pensei em mandar a sugestão de pauta para Cartacapital, uma mídia engajadíssima nas causas de justiça mas terminei optando por enviar para Diogo Mainardi, de Veja. Afinal, ele tem um filho com problemas sérios que já foi citado em seus artigos. Achei que se sensibilizaria, quem sabe encaminharia o assunto para os editores da revista. Nada. Hoje, mandei mails para Fantástico da Globo, para editores do jornal O Estado de São Paulo. Nem te ligo.

Estamos, hoje, com a faca e o queijo na mão (opa! outra coisa antiga essa expressão!!) e não nos damos conta: temos blogs, temos a internet, temos uma rede sem fronteiras. Tenho certeza de que Flavia está em muito boas mãos neste mundo virtual. Perdem os arrogantes do jornalismo desta terra de mídias medíocres.

Bom dia, Flavia. Bom dia, Odele. Feliz aniversário para vocês duas.Eu acredito na vitória de vocês. Eu acredito na Justiça.”

Obrigada Maristela.
E a você que visita o blog de Flavia, que nos lê, que nos é solidário e nos divulga, o meu abraço.
Até o próximo post.

"Acorda justiça brasileira! porque Flavia já não pode fazê-lo"

- 3 de abril de 2008
Como vocês já têm visto, costumo de vez em quando substituir meus textos por outros escritos por pessoas que, solidárias com este meu protesto contra a lentidão da justiça brasileira em condenar os culpados pelo acidente com minha filha, demonstram no que escrevem, também sua indignação com a negligência e a impunidade que caracteriza a história de Flavia.

O texto que aqui transcrevo foi escrito por Saramar Mendes do blog Abrindo Janelas, no dia 17 de Dezembro de 2007 e fez parte da Blogagem Coletiva para divulgar a história de Flavia, com a participação de mais de 200 blogs.

Como também venho adiantando aqui, estou apenas esperando que o processo de Flavia chegue efetivamente ao Superior Tribunal de Justiça em Brasília, o que deverá acontecer em mais alguns dias, para solicitar a adesão de vocês em outra Blogagem Coletiva, desta vez, para mostrar aos juízes de Brasília e aos responsáveis pelo acidente que destruiu o futuro de minha filha, que mais pessoas além de mim, se importam com Flavia e não pactuam com a negligência, tampouco com a impunidade.

Com vocês, o texto de Saramar:

"Se Flávia dorme, a justiça brasileira precisa acordar e cumprir sua missão, escrita em seu nome: JUSTIÇA!
A história de Flávia e o terrível acontecimento que a colocou em estado de coma vigil há quase dez anos está contada neste blog, criado por Odele, sua mãe. É uma história de dor da menina que, ontem (16/12), completou 20 anos e não pode comemorar porque a irresponsabilidade e a ganância cortaram o andamento normal de sua jovem vida. É também a história da luta de sua mãe para que a JUSTIÇA seja feita para Flavia e para que outras crianças e mães não sofram o que esta família sofre há tanto tempo.

Após conhecer os fatos que mudaram a vida de Flávia e dos seus, penso em que se transformou o ser humano. Penso na escravidão em que vivem os homens, sob o jugo do dinheiro, do lucro a qualquer preço e além de qualquer necessidade.

No caso desta menina, imagino que seria dever da empresa (ir) responsável ajudá-la, independente de qualquer ação judicial, de qualquer determinação legal. Para mim, trata-se, antes, de humanidade e responsabilidade.
Entretanto, os responsáveis pela tragédia de Flávia lutam de todas as formas para se furtar ao seu dever. E assim, demonstram que são menores que as feras porque estas cuidam de suas crias. Assim, mostram que um tanto de dinheiro enriquecendo os bancos é mais importante que uma vida transformada em pesadelo e dor.

Olhando a foto de Flávia, eu me pergunto se, assim como esta jovem, a humanidade dorme. E concluo que dorme sim, mas é outro sono, diferente do dela. Os seres humanos dormem em egoísmo e indiferença. Dormem em berço feito de notas infectas do mais sujo dinheiro do mundo e mais se embriagam em seu odor de injustiça.

E o poder judiciário brasileiro? Quase dez anos de sofrimento e tristeza para uma família inteira e nada se resolve e nenhuma autoridade se lembra de Flávia e de suas necessidades. A frieza e o desinteresse redobram o sofrimento da mãe que, além de ver a filha neste estado, ainda precisa lutar contra a lentidão da justiça, que sempre é constante para a parte mais fraca da história.

Até quando Flávia deverá esperar?

Até quando a impunidade continuará colocando em risco outras crianças?

ACORDA JUSTIÇA BRASILEIRA, PORQUE FLÁVIA JÁ NÃO PODE FAZÊ-LO."
Postado por Saramar às 12:34 AM

Obrigada Saramar.
Até o proximo post.

Post Sonoro: A voz nos aproximando.

- 1 de abril de 2008
Este post sonoro é a entrevista feita comigo por meu amigo António do blog Peciscas, de Portugal e que ficou lá no blog dele de 28 a 31.03.2008. Para quem ainda não ouviu, deixo aqui a entrevista.

Para ouvir, clic na setinha do play, a primeira da esquerda.


Este recurso do post sonoro é muito interessante. Nós que nos conhecemos através da palavra escrita, temos agora a oportunidade de nos aproximar um pouco mais através do som de nossa voz. Agradeço ao António pela oportunidade e a vocês por me ouvirem.

Nota:  Os comentários, desde que respeitosos, são bem vindos e até um estímulo para mim que faço deste blog a minha mídia, a minha janela para o mundo, e que de alguma forma é a voz de Flavia.. Entre, diga seu nome e dê a sua opinião. Aproveitemos esta facilidade existente nos blogs - interagir uns com os outros, de forma gentil, solidária, amiga. E desta forma estaremos dignificando o uso da Internet. Muito obrigada.


Um abraço e até o próximo post.
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