Na primeira foto, Flavia está com 5 anos e brincava de bailarina em nosso apartamento de Moema, em São Paulo. Flavia era uma criança saudável e muito alegre. Gostava particularmente de dançar.
A segunda foto mostra como estão atualmente os pés de Flavia. Ela está hoje com 20 anos e segue em coma vigil. São 10 anos assim. Nem mesmo a fisioterapia diária e o uso constante de órteses, contêm as deformidades que vão se instalando em seu corpo, por causa da hipertonia e da espasticidade. A rigidez causada pela hipertonia também deformou as mãozinhas de Flavia.
Para quem não sabe, a hipertonia ou espasticidade, é a rigidez do corpo causada por um dano cerebral. E foi o que aconteceu com Flavia. Seu cérebro foi seriamente danificado pelo tempo que ficou embaixo dágua, presa aos cabelos pelo ralo da piscina do condomínio onde morávamos.
MEU CORAÇÃO MACHUCADO.
Esta noite não dormi e tenho os olhos ardendo como se me tivessem jogado areia neles. Mas pior que os olhos, está meu coração, machucado e dolorido por ter mais uma noite presenciado o sofrimento de minha filha. Flavia passou mal esta noite. Outra vez. Embora eu não relate aqui para não despertar sentimentos de pena nas pessoas, algumas noites de Flavia são bastante difíceis. Por exemplo, devido ao excesso de medicação, ela tem indisposição estomacal e às vezes vomita, ou, como foi o caso desta noite, ela entra em crise de hipertonia. Quando isto acontece, Flavia fica muito rígida, transpira em excesso e seu corpo estremece como se estivesse levando choques. No rosto, uma expressão de dor, e mesmo inconsciente, ela geme. Dói-me muito ver isto. O que fazer? Já devidamente orientada pelo neurologista de Flavia, aumento a medicação para espasticidade e espero a crise passar. Esperar é o que tenho feito nestes 10 anos. Esperar que Flavia melhore, esperar pela punição dos culpados pelo acidente que a deixou assim. Esperar. Esperar.
As pessoas que acompanham este blog sabem que tenho a preocupação de não despertar pena nas pessoas, e não é este absolutamente o objetivo deste post, porque pena é um sentimento que não me faz falta. O objetivo deste post é mostrar no que a negligência de terceiros pode transformar nossas vidas, e lhes dizer que mesmo com os olhos ardendo e o coração doendo, vou continuar meu protesto contra a lentidão da justiça em condenar os responsáveis pelo acidente que tirou a saúde de minha filha. Mesmo com os olhos ardendo e o coração doendo, vou continuar gritando por justiça para Flavia. E que a justiça em Brasília, para onde o processo de Flavia está seguindo, não nos faça mais esperar. Nove anos de espera na justiça de São Paulo, já deveriam bastar. É preciso que a justiça para Flavia aconteça já.
Talvez vocês se perguntem porque não coloco Flavia em uma clínica ou hospital e a deixe lá. Talvez pensem que fosse essa uma solução para o desgaste físico e emocional que os cuidados com um ente querido nessas condições pode trazer a qualquer pessoa. A essa eventual pergunta eu responderia:
- Porque o desgaste físico e emocional pelo qual venho passando nesses 10 anos, seria menor do que o desgosto que eu sentiria ao ver minha filha vivendo em um ambiente hospitalar, onde existem cuidados médicos, mas pouquíssimo ou nenhum calor humano. E de calor humano, todos nós, e ainda mais nas condições em que ficou Flavia, é do que mais precisamos.
Quero agradecer a todos que por aqui passam e deixam seus comentários. Muito obrigada aos que linkan o blog de Flavia pois o link é um importante meio de divulgação de sua história. Peço a compreensão de vocês, pois não tenho conseguido retribuir a todas as visitas e comentários por absoluta falta de tempo.
Até o próximo post.