Meus filhos Fernando e Flavia, o laço de amor mais forte que tenho com a vida.
De vez em quando me pedem para eu falar de ESPERANÇA para outras pessoas que assim como eu, passaram ou passam pela dolorosa experiência da convivência diária com o estado de coma de alguém querido. Um filho, então, ah! como um filho é querido! Filho é um pedaço de nós. Filho é sem dúvida, o laço de afeto mais forte que temos com a vida. O que acontece de bom para nossos filhos, nos deixa exultantes de alegria. O que lhes acontece de mau, nos causa sofrimento intenso. Acredito que sem exceção, todos nós queremos ver nossos filhos saudáveis e felizes.
Sobre a esperança: Assim como a opção religiosa ou a crença de cada um de nós, a esperança é algo muito pessoal e há que se respeitar como cada pessoa lida com ela. E a esperança não é a mesma para uma pessoa que espera há dois, três, cinco anos, que para aquela que espera, há dez, treze, quinze anos ou mais. A esperança na recuperação de uma pessoa que sofreu um acidente, entre outras variáveis, depende muito da gravidade de cada caso. Essa esperança depende e é possível que se modifique com o passar dos anos, do longo tempo que a pessoa espera.
Quando percebi que a esperança de ver Flavia recobrar a consciência se enfraquecia com o passar dos anos - e já se vão mais de treze anos - que tenho minha menina em coma vigil – saí em busca de algo que preenchesse o vazio que a esperança em crise ia deixando em mim. Saí em busca de algo que desse um sentido a esta dor tão intensa. Tão intensa que por vezes senti que poderia eu mesma me transformar em dor. E andaria eu por aí a mostrar de forma ostensiva esta dor estampada em meus olhos, em meu rosto, em meus gestos. Em minha voz. Esse risco existe quando nos deixamos anular pela dor, quando não reagimos, quando permitimos que a dor nos faça dela reféns.
Cada um de nós vai encontrar a sua maneira - ou várias - de lidar com a esperança e com a dor. Uma das maneiras que encontrei de lidar com ambas é escrever aqui no blog de Flavia. Minha maneira de lidar com a esperança e a dor foi também protestar contra a lentidão da justiça brasileira em condenar os responsáveis pelo acidente que deixou Flavia em coma vigil irreversível. É continuar alertando para o perigo dos ralos de piscinas. É documentar aqui no blog de Flavia, todo novo acidente causado por ralo de piscina, do qual eu venha a saber. É desejar e lutar por uma lei federal, ampla e eficaz que entre outros itens de segurança, regulamente a venda a instalação e a manutenção dos sistemas de sucção de piscinas, de forma a evitar novas tragédias causadas por esses ralos que tantos acidentes graves e fatais têm causado no Brasil, sem que afinal, os responsáveis sejam devidamente punidos.
Minha esperança é que possamos um dia ter um país mais justo, para nós e nossos filhos, com uma justiça mais célere que se preocupe mais em proteger as vítimas do que ser tolerantes com pessoas e empresas negligentes, com a violência e com o crime. Minha esperança é que meu grito de dor e indignação pelo acidente - causado por negligência - ocorrido com minha filha e com tantas outras crianças, que esse meu grito ecoe cada vez mais longe, e que conscientize cada vez mais pessoas sobre o perigo desses ralos de piscinas, vendidos, instalados e mantidos sem o devido cuidado, num inadmissível desrespeito à vida humana.
E sempre tenho esperança no amor. Principalmente no seu poder de minimizar a dor.
Boa semana a todos e até o próximo post.