Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

A HISTÓRIA DE FLAVIA NA TV RECORD

- 30 de julho de 2008
Para falar sobre a história de Flavia e divulgar este blog, fui convidada e aceitei participar do programa:

O MELHOR DO BRASIL da TV RECORD que será apresentado no próximo sábado dia 02.08 às 16 horas.

Quero agradecer à produção do programa, pela oportunidade que me foi dada de falar em uma emissora do nível da TV Record, (a segunda de maior audiência no Brasil) sobre a história de Flavia, do perigo dos ralos de piscinas e da morosidade com que a justiça brasileira vem tratando o caso de minha filha. Mais de nove anos sem condenar os culpados a lhe pagar uma indenização se não justa, pelo menos coerente com a gravidade do acidente que lhe deixou em coma irreversível.

Todo o espaço que me vem sendo concedido pela mídia – ainda pouco na minha opinião – para divulgar o caso de Flavia, tem origem neste blog. É por intermédio deste blog que os jornalistas têm o primeiro contato com a história de Flavia.

No exterior, a TV Record poderá ser acessada por canal a cabo e claro, deverá ser considerado a diferença de fuso horário entre os países.

Muito obrigada.

PISCINA SEGURA, RESPONSABILIDADE DOS PAIS?!

- 27 de julho de 2008
Foto por mim scaneada do Jornal A Folha de São Paulo.

Transcrevo alguns trechos da matéria publicada no Jornal FOLHA DE SÃO PAULO de domingo passado, dia 20 de Julho de 2008, no caderno “Construção”. A matéria está assinada por Mariana Desimone e vem com o título de PISCINA SEGURA. Infelizmente, não consegui o link na Internet para direcionar vocês para a reportagem. Quem por acaso puder me informar esse link, ficarei agradecida.

Título da reportagem:
"PISCINA SEGURA: SUCÇÃO DO RALO REPRESENTA POSSIBILIDADE DE ACIDENTE”

Nesta matéria fica claro que a sucção do ralo representa perigo e “o pior que pode acontecer é uma criança ficar presa pelos cabelos em um ralo desses”.

Realmente, é o pior que pode acontecer e infelizmente aconteceu - e continua acontecendo - com várias pessoas, conforme vem sendo documentado neste blog e infelizmente foi também o que aconteceu com Flavia. Seus cabelos foram sugados “por um desses ralos”. Venho, há mais de nove anos tentando provar isto na justiça paulista, sendo que tanto o Condomínio Jardim da Juriti, quanto à empresa JACUZZI DO BRASIL , vêm se negando a admitir esta evidência provada nos autos do processo de Flavia. Que provas são essas? A piscina onde Flavia sofreu o acidente foi esvaziada quatro vezes e "periciada" por profissional designado pela própria justiça. No laudo está escrito:

“O condomínio autor forneceu ao signatário, cópias de duas plantas, mas que, no entanto, não representam fielmente a realidade local. Nas aludidas plantas notou-se que o projeto sugeria conjunto motor/bomba com 0,50 cv. (meio cavalo vapor) sendo que atualmente, pelas informações prestadas e colhidas na primeira visita, o referido equipamento foi substituído pelo condomínio, posteriormente, muito embora antes do acidente com a co-autora, o qual está lá instalado, até a presente data em funcionamento, tem potência de 1,5 cv (um e meio cavalo-vapor)”.Conclusões da perícia:

“... a perícia pôde concluir que:Houve substituição do conjunto motor/bomba/filtro e a instalação de um aquecedor, o que aconteceu antes do acidente. O equipamento anterior possuía potência de 0,50 cv (cavalo motor) e o atual, adquirido pelo condomínio é de 1,50 cv, da marca Jacuzzi....... o conjunto motor/bomba/filtro adquirido pelo condomínio, possui potência acima das necessidades locais, adequado para uma piscina de 104 m3 de água. A piscina da presente ação possui 43 m3, podendo ser considerado o conjunto, superdimensionado em 78%.
“....... o signatário entende que a sucção, da forma como aconteceu com a co-autora, não estaria relacionada com o seu peso, podendo tal fato ter ocorrido, mesmo que ela possuísse maior ou menor massa, desde que seus cabelos se aproximassem do aludido ralo....”.
Frase minha: O parágrafo acima explica porque também adultos têm sido vitimadas por acidentes com ralos de piscinas.

Está ainda no artigo da Folha de São Paulo:

“Uma vez pronta a piscina, outras medidas são necessárias para que o lazer aquático seja seguro para todos."

"Augusto Araújo, diretor da fabricante Sodramar, aponta a sucção como um dos elementos que devem receber a atenção especial dos pais. “Dependendo do tamanho da piscina, há uma força muito grande nas saídas de água. O pior que pode acontecer é uma criança ficar presa pelo cabelo em um ralo desses”, alerta.

O texto a seguir não faz parte da reportagem - são palavras minhas.

Sr. Augusto Araújo:
Pois esse pior aí a que o senhor se refere, aconteceu com minha filha Flavia. A forte sucção do ralo da piscina em que ela nadava, sugou o cabelo de Flavia, deixando-a presa embaixo dágua o que lhe causou um quase afogamento. As seqüelas? Flavia entrou em coma vigil irreversível, e vive (vivemos) – em sofrimento – há mais de 10 anos.

Sr. Augusto Araújo:
Não concordo que sejam os pais a "darem atenção especial" e terem que se preocupar se a sucção do ralo da piscina onde suas crianças brincam e se divertem, está ou não tão forte que lhes ofereça perigo de vida. Como exigir dos pais capacidade técnica para avaliar essa condição de perigo?! São os pais por acaso conhecedores da correta relação entre potência do motor de sucção e a metragem cúbica de água da piscina onde seus filhos brincam e se divertem?! Essa preocupação Sr. Augusto, deveria ser em primeiro lugar do fabricante do sistema de sucção da piscina, que deveria além de fazer constar em seus manuais a possibilidade de acidentes, caso exista desproporção entre o sistema de sucção da água e o tamanho da piscina, assim como também disponibilizar pessoa tecnicamente habilitada para orientar verbalmente o consumidor final. Em se tratando de evitar acidentes e mortes Sr.Augusto, isto seria o mais correto a ser feito. E essa preocupação deveria ser também do responsável pela manutenção e funcionamento da piscina. E - de novo – em se tratando de evitar acidentes graves, não seria demais que piscinas de uso público e coletivo tivessem obrigatoriamente que passar por fiscalização periódica e no caso de serem constatadas irregularidades, os responsáveis punidos, não simbolicamente claro, mas exemplarmente.

Ricardo Bargieri, presidente da fabricante Jacuzzi, participa desta matéria, mas limita-se a falar da limpeza da piscina. Senhor Ricardo Bargieri, o que falta para a empresa que o senhor preside admitir que minha filha teve os cabelos sugados por um ralo de fabricação Jacuzzi – instalado fora dos padrões técnicos de segurança por falta de informação da Jacuzzi? Senhor Ricardo Bargieri, o que falta para a empresa que o senhor preside assumir uma postura de responsabilidade civil e indenizar Flavia com um valor adequado e coerente com a dimensão e gravidade do acidente que lhe deixou em coma vigil irreversível?! Senhor Ricardo Bargieri, uma empresa não se mantém líder apenas por estar bem posicionada no mercado, mas sim por assumir uma postura de responsabilidade social, onde fique claro que essa empresa está mais preocupada com vidas humanas do que com o seu próprio lucro.

Senhores juizes: E depois de mais de nove anos de luta pelos direitos de Flavia, o que ainda lhes falta para que a empresa Jacuzzi do Brasil seja exemplarmente condenada a pagar à Flavia uma indenização que me permita cuidar dela com a qualidade de vida que ela precisa e que lhe proporcione uma sobrevida digna!?

Obs: Os negritos do texto são meus.
Até o próximo post.

A FACE OCULTA DO COMA (*)

- 20 de julho de 2008
(*) Título da reportagem de Silvânia Arriel, feita comigo e Flavia para a revista ENCONTRO de Belo Horizonte, Minas Gerais, edição de 15 de Julho, que aborda basicamente "o drama de famílias que cuidam em casa, durante anos, de parentes em coma".

Odele Souza, com a filha Flávia: “Quando ela desce para tomar sol, vai com a roupa combinando”

"Tão longe e tão perto: a filha ali, ao lado, alheia, parada, inconsciente enquanto a vida continua a produzir histórias alegres, tristes, indiferentes na engrenagem pontual dos dias. São 10 anos ou 126 meses ou mais de 3,8 mil dias sem falar, saber o que ocorre à sua volta, expressar carinho, praticar atos voluntários. É a metade de sua existência de 20 anos: de criança, entrou na adolescência, na juventude submersa num mundo à parte, impenetrável. “Tantas coisas você perdeu nestes 10 anos, um tempo que não dá para recuperar”, escreveu Odele Souza para a filha Flávia, em coma vígil, no Dia das Mães, postada no blog que alerta serem corriqueiros acidentes como o que ocorreu com a garota. Fotos da menina linda, alegre, brincando de bailarina condensam aqueles poucos anos de vida bem, saudável, tirada em poucos segundos por falta de oxigenação no cérebro, no dia 6 de janeiro de 1998, num acidente inimaginável na piscina no condomínio Jardim da Juriti, onde morava em São Paulo.

O ralo sugou seus cabelos e a deixou sem capacidade de interagir com o meio e as pessoas, mas com as funções orgânicas preservadas. Dorme, acorda, abre e fecha os olhos (daí o nome coma vígil), aparenta reagir a estímulos, se alimenta por sondas. Do ponto de vista da neurologia, um quadro considerado irreversível. Nem mesmo o despertar do polonês Jan Grzebski no ano passado, depois de ter vivido 19 anos em coma, ou de outros casos que aparecem sinalizam alguma possibilidade de mudança. “Quanto mais tempo demora em estado de coma, menos chances de reverter o quadro”, diz o médico Josaphat Vilela de Moraes, chefe da clínica de neurocirurgia do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), de Belo Horizonte.

Odele Souza sabe disto, não tem esperança de ver a filha consciente, inserida novamente neste nosso mundo. Mas faz de tudo para que as coisas boas deste mundo cheguem a ela. Expurga o ruim: a dureza, a frieza, a impessoalidade dos hospitais. “Por mais equipadas, as clínicas não têm calor humano”, diz. Está em casa, cercada do carinho da mãe, atenta aos cuidados necessários e também à feminilidade da jovem. Faz as suas unhas e esmera no visual. “Quando ela desce para tomar sol na área do prédio, vai com roupa combinando, brincos, presilhas no cabelo.” Faz parte da rotina cadenciada da filha: todos os dias, às 6h, acorda, tem a dieta com leite e suplemento, às 8h a primeira medicação, escova os dentes, toma banho, penteia os cabelos, escolhe a roupa, às 9h30, fisioterapia, com exceção dos domingos. De 10h30 às 13h30 fica sentada numa cadeira para facilitar a respiração, na área do prédio ou no quarto. Depois volta para a cama, recebe alimentação por sonda, é colocada em outra posição. Odele conversa com ela, como na carta escrita no Dia das Mães, em que relembra o pano de prato com o desenho de suas mãos pintadas, que ganhou de presente. Amanhã é outro dia, tudo recomeça sem a esperança de ver a filha falar, andar.

A mãe não se lamuria, nem se estressa de ter que acordar todos os dias às 5h30 para que o ritual seja seguido à risca. Sabe que está dando à filha o que nenhum hospital poderia oferecer: o manuseio respeitoso do corpo, a convivência direta afetuosa e a observação de cada progresso, de cada manifestação. “Aprendi a ler a expressão no seu rosto. Sei quando está com tensão pré-menstrual, quando sente dores”, relata. Aprendizado que veio com o tempo, com a transposição da tristeza por ver a filha viva, mas em coma. “Fiquei de luto profundo por dois anos .” Teve de se adaptar à nova vida que se apresentou depois do acidente, à perda do emprego de secretária bilíngüe, à aposentadoria involuntária, tudo com resignação ou se tornar vítima.

Pronto: partiu para a luta, aprendeu a lidar com a filha, a se revezar com uma auxiliar de enfermagem e reduzir custos. Nas folgas, reserva parte do dia para ir a exposições, teatro, cinema, e evitar o estresse tão comum em pessoas que lidam com doentes. Hoje, teria de gastar nove mil reais para suprir todas as necessidades de Flávia, o que não ocorre. “Falta fonoaudiólogo.” Ela batalha para isso, mas se diz barrada pela lentidão da Justiça, nestes dez anos, na sua busca por indenização pelo acidente....Propuseram 100 mil reais. “Não aceitei... Disseram que eu ia ficar rica. Eu era rica quando ela estava bem,” afirma. Continua a sua luta pela indenização e de alertar no seu blog que acidentes como o que ocorreu com Flávia são mais comuns do se pensa. “Estou exercendo o meu direito de cidadania e o da minha filha, que lhe foi tirado.”

A reportagem menciona outro caso de coma prolongado além do Flavia, o de Renata Vieira, em coma há seis anos. É a moça que está na primeira foto que ilustra o artigo. Para ler o texto completo, clic em REVISTA ENCONTRO.

Mídia, desde que não seja sensacionalista, é sempre bem vinda para divulgar o caso de Flavia e alertar para o perigo dos ralos de piscinas. Obrigada Silvânia por esta reportagem.

Até o próximo post.

Flavia, sorriso roubado

- 14 de julho de 2008
Flavia está com 20 anos, 10 passados em coma vigil. Como já expliquei em posts anteriores, no coma vigil a pessoa abre os olhos durante o dia e os fecha à noite para dormir, mas está em coma. Não interage com o meio ambiente e é dependente de todos pra tudo. É assim que está Flavia. Aquele sorriso lindo, gaiato, que ela ostentava em todas as fotos, lhe foi roubado há 10 anos. Os culpados? Seguem na IMPUNIDADE, enquanto a justiça segue em sua habitual LENTIDÃO, e com isto, acaba por beneficiar os réus e punir a vítima. Flavia.
O poema deste post foi escrito para Flavia, por Ana Martins, autora do blog AVE SEM ASAS, de Portugal. Ana também é colaboradora do blog português, A VOZ DO POVO. Ana, já li inúmeras vezes seu lindo poema para Flavia. Vou ler muitas vezes mais. As palavras Ana, aquelas de amor e afeto, de apoio, de solidariedade, se não nos tiram as dores, certamente as tornam mais suportáveis. É como você diz aqui: As palavras "libertam o inconformismo".

Inconformismo é o que sinto por ver Flavia vivendo à margem da vida, inconformismo por ver que os "predadores dos sonhos de Flavia" vêm se esquivando há mais de 9 anos, de suas responsabilidades e apresentando recursos e mais recursos ao processo judicial que movi contra eles, com a clara intenção de ganhar tempo e fazer com que o acidente que roubou a vida saudável e o sorriso de Flavia, caia no esquecimento. Mas é também este inconformismo que me move - apesar de nossa lenta justiça - a continuar lutando pelos direitos de Flavia e pela condenação exemplar da empresa JACUZZI DO BRASIL, AGF BRASIL SEGUROS e CONDOMÍNIO JARDIM DA JURITI.(Av.Juriti, 541 - Moema - São Paulo), os réus do processo de Flavia.

EU SEI FLAVIA.

Eu sei Flavia,
Que as palavras
São desabafos,
Estados de alma
Transcritos, aliviados.

Eu sei Flávia
Que as palavras
Não tiram as dores,
Não são remédios do corpo
Mas acalmam o espírito
E embalam o sono.
Eu sei Flávia
Que com palavras
Não te posso curar
Mas liberto o meu inconformismo,
Tento aclamar por Justiça
Talvez minimize a tua dor interior,
Dê mais sentido à tua vida.

Eu sei Flávia
Que os predadores dos teus sonhos,
Aqueles que te roubaram o sorriso,
Os fundadores do teu sofrimento,
Tentam omitir seus erros,
Sonham apressar o tempo,
Calar a voz da razão,
Implantar o esquecimento.

Mas também sei Flávia
Que as palavras
Estremecem a alma e a mente,
Dão mais calor à vida,
Transportam emoções
Encorajam-nos, dão-nos força
E elegem razões.

E é por isso Flávia
Que não podemos desistir
E acredito que um dia
Justiça se fará
E a tua história
Não mais morrerá.

Para Flávia, a menina que do outro lado do oceano,conquistou o meu coração.
Escrito a 2 de Julho de 2008

Ana, MUITO OBRIGADA por este poema para Flavia- tão bonito e tão verdadeiro.

Aos nossos leitores o nosso muito obrigada pela visita, pela atenção, pela divulgação.

Até o próximo post.

O dia a dia de Flavia: Uma rotina de dor e amor

- 7 de julho de 2008
Obs: Na data de 11.07.2008, conforme mostrado pelo sitemeter, este blog alcançou o número de 80 mil visitantes em um ano e meio de existência. A você que nos visita, comenta e divulga o blog de Flavia, MUITO OBRIGADA.

O post que publico hoje é quase uma cópia de um texto que em Janeiro deste ano, a pedido, escrevi para o blog Sidadania, de Portugal. Raul, autor do Sidadania é um infectado pelo vírus do HIV e um estudioso do assunto. Em seu blog, e com a colaboração de Paulo, outro infectado, Raul esclarece dúvidas e fornece informações preciosas sobre como lidar com a doença. O que isto tem a ver com o caso de Flavia? -A convivência diária com a dor. Raul acha que minha experiência em cuidar de Flavia em coma, pode ajudar os infectados a lidar melhor com o sofrimento e a entender que nem só na AIDS está a dor.

Além de Raul e Paulo, outras pessoas trabalham para que o Sidadania passe melhor a sua mensagem. Lidia, do Blog Silêncio Culpado, tem escrito textos e encabeçado debates que muito agregam à causa da AIDs. O autor do blog Adesenhar, um talentoso "desenhador" foi quem elaborou o logo do blog do Raul. Isabel Filipe, do blog Art&Design, também está sempre colaborando com seus trabalhos. E claro, os visitantes que passam pelo Sidadania, e aqueles que deixam seus comentários, possibilitam uma interação que beneficia a todos, seja pelo prazer de estarmos nos comunicando, seja pelo que entre nós vamos aprendendo. Sugiro que você ao entrar em um blog, deixe seu comentário sobre o post que leu, interaja com o autor do blog. A visita é importante, claro, mas é o comentário que permite essa interação, essa "troca" entre nós. Sugiro também que você leia os comentários deixados por outros visitantes. Alguns são preciosos e por si só dariam um post.

Pelo número de acidentes causados por ralos de piscinas que venho documentando neste blog, acidentes esses acontecidos no Brasil e no mundo, envolvendo não só crianças como adultos, pode ser constatado que Flavia é mais um exemplo do que pode acontecer quando equipamentos de sucção de piscinas são vendidos, instalados e mantidos sem a devida preocupação com a segurança desses equipamentos.

Quando aconteceu o acidente com Flavia eu trabalhava na empresa HP Brasil, na qual já estava há cinco anos. O Plano de saúde da empresa me permitia ter uma estrutura de cuidados com Flavia, Home Care, por exemplo. Por isso, após oito meses de internação hospitalar e ainda sem ter saído do estado de coma, eu, de comum acordo com Dr.Fernando Arita, até hoje neurologista de Flavia, optei por cuidar dela em casa, por achar que o aconchego do lar lhe faria bem, além de facilitar meus cuidados e atenção com meu filho, na época com 14 anos. Trabalhar, dar atenção a ele e estar presente no Hospital com Flavia não era tarefa fácil.

Após cinco anos do acidente, e certamente pela queda de minha performance no trabalho, fui demitida do emprego. Já há algum tempo sem o Home Care, montei uma estrutura própria com todos os profissionais mencionados como necessários pela perícia neurológica feita em Flavia. Essa estrutura de cuidados exigia entre outros profissionais, fisioterapia diária e duas auxiliares de enfermagem que trabalhavam em dias alternados, com carga horária de 12 horas cada uma. Depois que a empresa JACUZZI DO BRASIL deixou de pagar o valor mensal de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) que pagava à Flavia a titulo de tutela antecipada, tive que mexer nessa estrutura. Hoje aposentada, para cuidar de Flavia, eu conto apenas com a fisioterapia diária e uma auxiliar de enfermagem que trabalha em dias alternados.

Esta é a rotina de cuidados com Flavia, que vou descrever de forma simplificada.

Dia 01: Com ajuda da auxiliar de enfermagem.
06:00h – Preparo a primeira refeição de Flavia. Uma das seqüelas do acidente é uma severa disfagia – a incapacidade de engolir. Por isso toda medicação e alimentação têm que ser líquidas e dadas pela gastrostomia, uma cirurgia que através de uma sonda leva o alimento diretamente ao estômago.

08:00h – Chega Masé, a auxiliar de enfermagem que faz a higiene em Flavia e a veste para a fisioterapia. A higiene corporal é feita duas vezes ao dia e atenção especial é dada à higiene oral. Flavia nunca teve cárie e se tiver, será complicado tratar. Ela teria que ser internada e receber anestesia geral, já que ela não responderia à ordem do dentista de permanecer com a boca aberta. Depois da higiene e da fisioterapia, eu e Masé colocamos Flavia em uma cadeira de rodas especialmente feita e sob medida para as condições dela. Flavia fica um tempo na sala ouvindo música ou textos que Masé lê para ela. Enquanto isto, cuido dos afazeres da casa.

Por volta do meio dia eu e Masé descemos com Flavia para o jardim do prédio onde ela toma ar fresco, sol e recebe estímulos visuais e auditivos. Por volta das 13:30h subimos para o apto e recolocamos Flavia na cama. Deixo-a com Masé e saio para resolver os compromissos externos.

Durante o dia Flavia recebe alimentação e medicação em horários que devem ser rigorosamente obedecidos. É preciso estar atentas a qualquer sinal de desconforto para, se necessário, dar uma medicação extra ou mudá-la de posição para evitar a formação de escaras, que Flavia nunca teve. Sua pele é íntegra. Por causa das secreções que se formam em seus pulmões, ela precisa ser aspirada pelo nariz e por boca, várias vezes ao dia. Estas aspirações, feitas com uma sonda introduzida em seu nariz incomodam muito Flavia. Noto isto pela expressão do rosto dela.

Muito importante é dar a Flavia ou a qualquer paciente em estado de coma, além dos estímulos visuais, também estímulos auditivos. Mantenho no quarto de Flavia, um pequeno aparelho de som, e ali coloco músicas cuidadosamente selecionadas para ela. O repertório é variado. Roberto Carlos, Andrea Bocelli, Yanni, Enya, Mozart..... Além disso, com o notebook no quarto dela, coloco as mensagens de voz que nosso amigo António do blog Peciscas, também de Portugal, envia com frequência para Flavia. Ao colocar as mensagens de voz de António e as músicas que nossos amigos virtuais enviam para Flavia, sempre digo a ela de quem vem a mensagem. Faço o mesmo com os textos que os amigos escrevem e que leio para ela. É preciso conversar com pessoas em coma. É provável que nossa voz lhes cheguem como um carinho.

20:00h – Masé termina seu plantão.

À noite, fico sozinha com Flavia que dorme no quarto dela, ao lado do meu. Ambos os quartos ficam sempre com as portas abertas para que eu consiga ouvir qualquer ruído que possa significar uma necessidade de Flavia. Quase sempre ela dorme bem, mas às vezes, por causa do excesso de remédios que toma, acontece uma indisposição estomacal e ela vomita. É um momento difícil, mas vou lhes poupar dos detalhes.

Dia 02 – Sem a ajuda da auxiliar de enfermagem.

A rotina de cuidados é igual ao dia anterior, mas sem a auxiliar, Flavia permanece o dia inteiro na cama já que sem ajuda, é impossível eu sentá-la na cadeira de rodas. Sem a auxiliar de enfermagem, também é impossível eu sair de casa

Se vivo apenas em função de Flavia? Não.

Para sair de casa e me distrair um pouco, ou Masé faz um extra, ou contrato outra auxiliar de enfermagem que mantenho como reserva para essas ocasiões. Gosto de ir ao cinema, teatro, visitar museus, exposições. Nos dias em que tenho ajuda com Flavia, faço ginástica na academia do prédio. E como atividade solitária, gosto de ler e escrever e cuidar de minhas plantas.

A dor por ver diariamente Flavia inconsciente e dependente de todos pra tudo, obviamente existe e é dilacerante. O grande desafio é viver uma situação de dor sem nos tornarmos nós próprios uma dor para o outro, no caso aqui, para meu filho.

A dor há que ser trabalhada, sob pena de sucumbirmos a ela. Sem a pretensão de dar conselhos, mas sim como sugestão, eu lhe diria: Se você estiver passando por uma situação de dor, de sofrimento intenso, qualquer que seja a circunstância – qualquer – depois de um tempo de convivência íntima, de ter se entregue à sua dor de forma total e completa, reaja, saia do luto. Lute!

Lutar é que venho fazendo desde que Flavia sofreu esse acidente que lhe transformou dolorosamente a vida. Lutar é o que muitos brasileiros fazem, acredito, para fazer valer os seus direitos neste nosso país onde o sistema jurídico, por sua morosidade, nos deixa quase órfãos. Infelizmente nos deparamos com uma justiça por demais lenta e que por isto se torna uma justiça injusta. Infelizmente, a burocracia excessiva que torna nossa justiça essa máquina pesada, fazendo com que os processos se arrastem por anos a fio, acaba por punir as vítimas e beneficiar os culpados, além do que a impunidade é um incentivo à continuidade das negligências que certamente ocasionarão novos acidentes.

Obrigada pela atenção de vocês e até o próximo post.

RALO DE PISCINA. MAIS UMA VÍTIMA FALECEU

- 2 de julho de 2008
Abigail Taylor, 6 anos, faleceu. A sucção do ralo da piscina lhe causou evisceração (sucção dos intestinos)

Quem acompanha o blog de Flavia sabe que além de protestar contra a lentidão da justiça em condenar os culpados pelo acidente com minha filha, venho também documentando outros acidentes ocorridos com ralos de piscinas, no Brasil e no mundo, com a intenção de alertar e mostrar que os acidentes com esses ralos sugadores, são mais comuns do que se pensa. No post deste blog, com o título de E A TRAGÉDIA, SE REPETE, E SE REPETE. documentei aqui o acidente ocorrido com a menina americana Abigail Taylor, de seis anos, que em junho de 2007 teve seus intestinos parcialmente sugados por um ralo de piscina. Abigail foi hospitalizada em estado grave e passou por várias cirurgias, que foram lhe causando complicações adicionais, até que em 20 de março deste ano de 2008, Abigail faleceu.
Swimming Pool Victim Abigail Taylor Dies
Pool Drain Causes Horriffic Injury


On June 29, 2007, Abigail Taylor of Edna, Minnesota, was severely injured when she was partially disemboweled by the suction from a swimming pool drain. As a result of this she received a triple-replacement surgery consisting of the bowel, liver and pancreas.While the initial outlook was promising, Abigail suffered a number of setbacks including a cancerous condition often brought on by organ replacement surgery, and, sadly died on March 20, 2008..... ....another young girl who drowned after being pinned by a pool drain.Pools are dangerous. It doesn't just have to be a large pool or in-ground pool to present a risk; especially to children.
A notícia completa está AQUI.

Girl Whose Intestines Were Partially Sucked Out by Swimming Pool Drain Dies
MINNEAPOLIS — The family of a 6-year-old girl whose intestines were partially sucked out by a Minnesota swimming pool drain last year says the child has died.
A notícia completa está AQUI.
Obs: Os negritos do texto são meus.

O acidente com Abigail aconteceu na piscina de um clube, o acidente com Flavia aconteceu na piscina do prédio no condomínio onde morávamos. No Motel Astúrias de São Paulo também aconteceram acidentes fatais com mulheres que tiveram seus cabelos sugados pelo ralo da piscina alí instalada. Estes são alguns exemplos do grande perigo que oferecem ralos de piscinas funcionando de forma irregular - com sucção superior à adequada à piscina onde esses ralos estão instalados.

O superdimensionamento do sistema de sucção da piscina onde Flavia sofreu o acidente, foi provado por perícia técnica feita por profissional designado pela justiça paulista. Portanto, essa irregularidade, é um fato inquestionável. E essa irregularidade existe em outras piscinas e continuarão a existir e a fazer novas vítimas, caso não sejam tomadas URGENTES medidas que obriguem:

1. O fabricante do sistema de sucção da piscina fazer constar em seus manuais e - se não for pedir muito - orientar verbalmente o cliente/consumidor sobre o risco oferecido por um sistema de sucção em desproporção com a metragem cúbica de água da piscina. Um motor com potência de 1,50 cavalos é adequado para uma piscina de 103 metros cúbicos de água e não de 43 metros cúbicos, como no caso da piscina onde Flavia nadava. O fabricante do sistema de sucção que causou o acidente com Flavia, como venho mencionando aqui, é a empresa JACUZZI DO BRASIL, que em todos esses anos de processo, vem se furtando à sua responsabilidade no acidente que deixou Flavia em coma vigil.

2. O condomínio, clube, escola de natação, motel ou qualquer pessoa que decidir comprar e instalar um sistema de sucção de água de uma piscina, deve receber orientação técnica para tal. Não seguir esse procedimento implica em negligência que pode levar a acidentes graves e fatais.

3. Manutenção e fiscalização periódicas de piscinas de uso público e coletivo e em caso de irregularidade, punir com rigor os responsáveis.

Medidas como estas poderiam prevenir acidentes e evitar tragédias como a que aconteceu com Flavia e como as que vêem sendo documentadas aqui neste blog. Mas por enquanto, mídia e autoridades não têm mostrado interesse nem em divulgar, nem em cobrar ações dos responsáveis por piscinas que podem ter instalados sob suas águas, esses ralos sugadores.

Até o próximo post.
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