Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.
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O que podemos fazer com o que fizeram conosco

- 12 de abril de 2009


"NÃO IMPORTA O QUE FIZERAM COM VOCÊ. O QUE IMPORTA É O QUE VOCÊ FAZ COM AQUILO QUE FIZERAM COM VOCÊ"
Jean Paul Sartre.
Flavia,
Haveremos de fazer algo com o que fizeram conosco filha, haveremos de fazer. Por exemplo, conscientizar pessoas e empresas do perigo existente nos ralos de piscinas, de forma a evitar, ou pelo diminuir, este tipo de acidente nas várias partes do mundo.

Haveremos de fazer também filha com que saibam que jamais nos calaremos diante da negligência, da impunidade e do desrespeito aos direitos humanos de todos nós.

Flavia, há 11 anos em coma.Que não seja em vão

- 6 de janeiro de 2009
Ralos de piscinas = acidentes graves e fatais no Brasil e no mundo.

Hoje faz onze anos que Flavia teve seus cabelos sugados por um ralo de piscina funcionando de forma irregular. Hoje faz onze anos que Flavia entrou em coma e passou a viver inconsciente e à margem da vida. Hoje faz onze anos que luto por justiça para minha filha.
Antes do acidente ocorrido com Flavia, pessoas morreram pelo mesmo motivo: NEGLIGÊNCIA na venda, instalação e manutenção dos sistemas de sucção de piscinas. Depois do acidente ocorrido com Flavia, pessoas continuam morrendo pelo mesmo motivo. A IMPUNIDADE favorece a negligência.

Que possamos todos nós, imbuidos do sentimento comum de INDIGNAÇÃO, mudar este quadro de vergonhosa omissão das autoridades e órgãos competentes, para que ninguém mais venha a falecer ou viver em estado de coma, por acidentes causados por ralos de piscinas.
Pelo que tenho pesquisado, Flavia é a única sobrevivente desse tipo de acidente. Que todo o sofrimento, a árdua luta e esta longa espera por justiça para Flavia, não sejam em vão.

A escuridão do estado de coma e a luz de Flavia

- 14 de outubro de 2008
Sou muito agradecida a todos que escrevem sobre Flavia e sua longa história de dor e sofrimento, sinônimo de NEGLIGÊNCIA e IMPUNIDADE neste nosso Brasil. Quanto mais pessoas souberem da história de Flavia, mais pessoas ficarão sabendo que ralos de piscinas, se mal vendidos e mal instalados, podem oferecer perigo os seus usuários. Quanto mais pessoas souberem da história de Flavia, mais pessoas poderão estar se conscientizando de que não devemos nos calar diante de negligências e injustiças praticadas contra nós ou contra nossos entes queridos. É preciso exercer a nossa cidadania, mesmo que isto nos custe uma exposição por vezes, dolorosa.

Alguns textos publicados sobre Flavia, me emocionam. Este aqui é um exemplo. Participando da Blogagem Coletiva de Flavia, no dia 15 de Setembro de 2008, Betty publicou o texto e o vídeo abaixo. E ao ouvir a música do vídeo e ao prestar atenção à letra, eu me sinto mesmo como se estivesse cantando para Flavia. "Através da escuridão filha, posso ver a sua luz... "

O texto de Betty:

"Hoje, mais uma vez blogueiros se reúnem para clamar por justiça. Em janeiro de 1998, Flavia teve seus cabelos sugados pelo ralo da piscina do condomínio onde vivia com a mãe, Odele, e o irmão mais velho Fernando. A menina, então com 10 anos, ficou submersa por vários minutos, teve parada cardio-respiratória, jamais se recuperou, e vive em coma vigil até hoje, estado considerado irreversível pelos médicos que a tratam.Odele processou os co-responsáveis por essa tragédia: JACUZI DO BRASIL, AGF BRASIL SEGUROS, CONDOMÍNIO JARDIM DA JURITI.

A despeito das provas periciais constantes dos autos, que demonstram claramente a culpa de cada um dos réus, estes têm se valido de todos os recursos existentes em nossa legislação processual para escaparem de suas respectivas responsabildades.Atualmente o processo encontra-se no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, aguardando a decisão, em última instância, do Ministro Carlos Fernando Mathias.Dez anos esperando por justiça... Flavia e Odele esperando, esperando...Que a justiça se faça, que os réus sejam condenados a suprir todas as despesas necessárias para que Flavia tenha a melhor qualidade de vida possível, mesmo sendo isso um nada diante do tudo que lhe foi roubado. Nenhum valor irá ressarcir tanta dor, tanto sofrimento, não há o que pague uma vida roubada.

De Flavia roubaram parte da infância, anos de juventude, sorrisos, sonhos, até lágrimas de amor que não viveu. Nesses dez anos que permanece adormecida, aconteceram tantas coisas que ela não pôde saber, das quais não participou, com as quais não se emocionou, presa num sono indecifrável, esse mistério que chamam de coma.Para você, Odele, deixo uma canção que sempre me faz lembrar de você e da Flavia. Quando a ouço, é como se visse você cantando para ela... "


I look up to
Everything you are
In my eyes you do no wrong
I've loved you for so long
And after all is said and done
You're still you

After all
You're still you
You walk past me
I can feel your pain
Time changes everything
One truth always stays the same
You're still you
After all
You're still you

I look up to
Everything you are
In my eyes you do no wrong
And I believe in you
Although you never asked me to
I will remember you
And what life put you through
And in this cruel and lonely world
I found one love
You're still you
After all
You're still you

Muito obrigada Betty por sua delicadeza e sensibilidade.
Muito obrigada a vocês por continarem a passar por aqui a ler, a comentar meus posts e a acompanhar esta minha luta - que já sinto nossa - por JUSTIÇA PARA FLAVIA!

Até o próximo post.

O dia a dia de Flavia: Uma rotina de dor e amor

- 7 de julho de 2008
Obs: Na data de 11.07.2008, conforme mostrado pelo sitemeter, este blog alcançou o número de 80 mil visitantes em um ano e meio de existência. A você que nos visita, comenta e divulga o blog de Flavia, MUITO OBRIGADA.

O post que publico hoje é quase uma cópia de um texto que em Janeiro deste ano, a pedido, escrevi para o blog Sidadania, de Portugal. Raul, autor do Sidadania é um infectado pelo vírus do HIV e um estudioso do assunto. Em seu blog, e com a colaboração de Paulo, outro infectado, Raul esclarece dúvidas e fornece informações preciosas sobre como lidar com a doença. O que isto tem a ver com o caso de Flavia? -A convivência diária com a dor. Raul acha que minha experiência em cuidar de Flavia em coma, pode ajudar os infectados a lidar melhor com o sofrimento e a entender que nem só na AIDS está a dor.

Além de Raul e Paulo, outras pessoas trabalham para que o Sidadania passe melhor a sua mensagem. Lidia, do Blog Silêncio Culpado, tem escrito textos e encabeçado debates que muito agregam à causa da AIDs. O autor do blog Adesenhar, um talentoso "desenhador" foi quem elaborou o logo do blog do Raul. Isabel Filipe, do blog Art&Design, também está sempre colaborando com seus trabalhos. E claro, os visitantes que passam pelo Sidadania, e aqueles que deixam seus comentários, possibilitam uma interação que beneficia a todos, seja pelo prazer de estarmos nos comunicando, seja pelo que entre nós vamos aprendendo. Sugiro que você ao entrar em um blog, deixe seu comentário sobre o post que leu, interaja com o autor do blog. A visita é importante, claro, mas é o comentário que permite essa interação, essa "troca" entre nós. Sugiro também que você leia os comentários deixados por outros visitantes. Alguns são preciosos e por si só dariam um post.

Pelo número de acidentes causados por ralos de piscinas que venho documentando neste blog, acidentes esses acontecidos no Brasil e no mundo, envolvendo não só crianças como adultos, pode ser constatado que Flavia é mais um exemplo do que pode acontecer quando equipamentos de sucção de piscinas são vendidos, instalados e mantidos sem a devida preocupação com a segurança desses equipamentos.

Quando aconteceu o acidente com Flavia eu trabalhava na empresa HP Brasil, na qual já estava há cinco anos. O Plano de saúde da empresa me permitia ter uma estrutura de cuidados com Flavia, Home Care, por exemplo. Por isso, após oito meses de internação hospitalar e ainda sem ter saído do estado de coma, eu, de comum acordo com Dr.Fernando Arita, até hoje neurologista de Flavia, optei por cuidar dela em casa, por achar que o aconchego do lar lhe faria bem, além de facilitar meus cuidados e atenção com meu filho, na época com 14 anos. Trabalhar, dar atenção a ele e estar presente no Hospital com Flavia não era tarefa fácil.

Após cinco anos do acidente, e certamente pela queda de minha performance no trabalho, fui demitida do emprego. Já há algum tempo sem o Home Care, montei uma estrutura própria com todos os profissionais mencionados como necessários pela perícia neurológica feita em Flavia. Essa estrutura de cuidados exigia entre outros profissionais, fisioterapia diária e duas auxiliares de enfermagem que trabalhavam em dias alternados, com carga horária de 12 horas cada uma. Depois que a empresa JACUZZI DO BRASIL deixou de pagar o valor mensal de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) que pagava à Flavia a titulo de tutela antecipada, tive que mexer nessa estrutura. Hoje aposentada, para cuidar de Flavia, eu conto apenas com a fisioterapia diária e uma auxiliar de enfermagem que trabalha em dias alternados.

Esta é a rotina de cuidados com Flavia, que vou descrever de forma simplificada.

Dia 01: Com ajuda da auxiliar de enfermagem.
06:00h – Preparo a primeira refeição de Flavia. Uma das seqüelas do acidente é uma severa disfagia – a incapacidade de engolir. Por isso toda medicação e alimentação têm que ser líquidas e dadas pela gastrostomia, uma cirurgia que através de uma sonda leva o alimento diretamente ao estômago.

08:00h – Chega Masé, a auxiliar de enfermagem que faz a higiene em Flavia e a veste para a fisioterapia. A higiene corporal é feita duas vezes ao dia e atenção especial é dada à higiene oral. Flavia nunca teve cárie e se tiver, será complicado tratar. Ela teria que ser internada e receber anestesia geral, já que ela não responderia à ordem do dentista de permanecer com a boca aberta. Depois da higiene e da fisioterapia, eu e Masé colocamos Flavia em uma cadeira de rodas especialmente feita e sob medida para as condições dela. Flavia fica um tempo na sala ouvindo música ou textos que Masé lê para ela. Enquanto isto, cuido dos afazeres da casa.

Por volta do meio dia eu e Masé descemos com Flavia para o jardim do prédio onde ela toma ar fresco, sol e recebe estímulos visuais e auditivos. Por volta das 13:30h subimos para o apto e recolocamos Flavia na cama. Deixo-a com Masé e saio para resolver os compromissos externos.

Durante o dia Flavia recebe alimentação e medicação em horários que devem ser rigorosamente obedecidos. É preciso estar atentas a qualquer sinal de desconforto para, se necessário, dar uma medicação extra ou mudá-la de posição para evitar a formação de escaras, que Flavia nunca teve. Sua pele é íntegra. Por causa das secreções que se formam em seus pulmões, ela precisa ser aspirada pelo nariz e por boca, várias vezes ao dia. Estas aspirações, feitas com uma sonda introduzida em seu nariz incomodam muito Flavia. Noto isto pela expressão do rosto dela.

Muito importante é dar a Flavia ou a qualquer paciente em estado de coma, além dos estímulos visuais, também estímulos auditivos. Mantenho no quarto de Flavia, um pequeno aparelho de som, e ali coloco músicas cuidadosamente selecionadas para ela. O repertório é variado. Roberto Carlos, Andrea Bocelli, Yanni, Enya, Mozart..... Além disso, com o notebook no quarto dela, coloco as mensagens de voz que nosso amigo António do blog Peciscas, também de Portugal, envia com frequência para Flavia. Ao colocar as mensagens de voz de António e as músicas que nossos amigos virtuais enviam para Flavia, sempre digo a ela de quem vem a mensagem. Faço o mesmo com os textos que os amigos escrevem e que leio para ela. É preciso conversar com pessoas em coma. É provável que nossa voz lhes cheguem como um carinho.

20:00h – Masé termina seu plantão.

À noite, fico sozinha com Flavia que dorme no quarto dela, ao lado do meu. Ambos os quartos ficam sempre com as portas abertas para que eu consiga ouvir qualquer ruído que possa significar uma necessidade de Flavia. Quase sempre ela dorme bem, mas às vezes, por causa do excesso de remédios que toma, acontece uma indisposição estomacal e ela vomita. É um momento difícil, mas vou lhes poupar dos detalhes.

Dia 02 – Sem a ajuda da auxiliar de enfermagem.

A rotina de cuidados é igual ao dia anterior, mas sem a auxiliar, Flavia permanece o dia inteiro na cama já que sem ajuda, é impossível eu sentá-la na cadeira de rodas. Sem a auxiliar de enfermagem, também é impossível eu sair de casa

Se vivo apenas em função de Flavia? Não.

Para sair de casa e me distrair um pouco, ou Masé faz um extra, ou contrato outra auxiliar de enfermagem que mantenho como reserva para essas ocasiões. Gosto de ir ao cinema, teatro, visitar museus, exposições. Nos dias em que tenho ajuda com Flavia, faço ginástica na academia do prédio. E como atividade solitária, gosto de ler e escrever e cuidar de minhas plantas.

A dor por ver diariamente Flavia inconsciente e dependente de todos pra tudo, obviamente existe e é dilacerante. O grande desafio é viver uma situação de dor sem nos tornarmos nós próprios uma dor para o outro, no caso aqui, para meu filho.

A dor há que ser trabalhada, sob pena de sucumbirmos a ela. Sem a pretensão de dar conselhos, mas sim como sugestão, eu lhe diria: Se você estiver passando por uma situação de dor, de sofrimento intenso, qualquer que seja a circunstância – qualquer – depois de um tempo de convivência íntima, de ter se entregue à sua dor de forma total e completa, reaja, saia do luto. Lute!

Lutar é que venho fazendo desde que Flavia sofreu esse acidente que lhe transformou dolorosamente a vida. Lutar é o que muitos brasileiros fazem, acredito, para fazer valer os seus direitos neste nosso país onde o sistema jurídico, por sua morosidade, nos deixa quase órfãos. Infelizmente nos deparamos com uma justiça por demais lenta e que por isto se torna uma justiça injusta. Infelizmente, a burocracia excessiva que torna nossa justiça essa máquina pesada, fazendo com que os processos se arrastem por anos a fio, acaba por punir as vítimas e beneficiar os culpados, além do que a impunidade é um incentivo à continuidade das negligências que certamente ocasionarão novos acidentes.

Obrigada pela atenção de vocês e até o próximo post.

RALOS DE PISCINAS - EXIJA FISCALIZAÇÃO!

- 5 de dezembro de 2007
Copie o selo acima e participe da blogagem coletiva programada para o dia 17.12.2007.

Este blog existe, porque minha filha Flavia, que em poucos dias completará 20 anos de idade, está em coma vigil há quase 10 anos, desde que um acidente com RALO DE PISCINA lhe interrompeu a infância saudável. Este blog existe porque o acidente acontecido com Flavia já havia acontecido com outras crianças e continuou a acontecer, no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, Na França, na Rússia... E este blog existe porque apesar da ação devastadora dos acidentes causados por ralos de piscina, locais e empresas responsáveis pela venda, instalação e manutenção desses ralos que compõem os sistemas de sucção de piscinas, continuam indiferentes à sorte das vítimas, continuam na impunidade, mesmo muitos anos depois da ocorrência das tragédias.

É preciso urgência na fiscalização da venda, instalação e manutenção dos sistemas de sucção de piscinas. É preciso punição exemplar para quem cometeu ou venha a cometer negligências com a segurança dos sistemas de sucção de piscinas. É preciso cobrar agilidade da justiça na proteção das vítimas.

Como eu disse no post anterior, sozinhos fica difícil, mas juntos, somos poderosos. Por isso, peço a adesão de vocês na blogagem coletiva que estará acontecendo no próximo dia 17 de Dezembro, para aumentar a visibilidade da história de Flavia que é apenas um exemplo, não só no Brasil mas no mundo, da negligência, da impunidade e do desrespeito aos direitos humanos de todos nós.

Muito obrigada.

EM TEMPO: A empresa fabricante do ralo de piscina que causou o acidente que deixou Flavia em coma irreversível e que até hoje não foi condenada pela justiça brasileira a indenizar Flavia, conforme venho mencionando em posts anteriores, é a JACUZZI DO BRASIL.
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