Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

RALOS DE PISCINAS = PERIGO!

- 27 de abril de 2007
Peço desculpas a quem visita o blog Flavia, Vivendo em Coma, se em alguns posts eu possa lhes parecer “pesada” ao relatar o dia a dia de Flavia após o acidente. Minha intenção não é ser down e não é, de modo algum, expor desnecessariamente o sofrimento de minha filha, mas é mostrar o quanto uma vida humana pode ser radicalmente modificada por causa de negligências na segurança das piscinas, um local de lazer, onde adultos e crianças vão para se distrair, e acabam tendo a vida dolorosamente transformada ou até mesmo morrem, como é o caso do exemplo acima com o menino Thiago, de 11 anos, morador de Manaus, no Brasil, noticiado no jornal O Estado de S.Paulo, do dia 11.04.1999.

Antes do acidente com Flavia, eu não imaginava que ralos de piscinas pudessem oferecer algum perigo. Depois, comecei a pesquisar acidentes desse tipo. Descobri que alguns casos muito graves aconteceram na França, entre 1994 e 2001. Os recortes dos jornais franceses noticiando esses acidentes foram anexados aos laudos do processo de Flavia. Eu soube de um caso na Grécia, em 2001 e outro em Portugal em 2002, onde crianças também foram vítimas desse tipo de acidente, todos causados por irregularidades no sistema de sucção da água das piscinas. Algumas dessas crianças morreram, outras, ficaram com graves sequelas. Além dos casos aqui mencionados, tenho recortes de jornais e revistas com notícias de outros acidentes ocorridos em diferentes partes do mundo, e pelo mesmo motivo - negligência com o sistema de sucção das piscinas.

No caso específico do acidente com Flavia, o ralo da piscina do prédio onde morávamos estava superdimensionado. Para aquecer a água da piscina, o síndico autorizou a troca do equipamento, o que foi feito sem acompanhamento técnico especializado. Por sua vez, a Jacuzzi, empresa fabricante do ralo, vendeu, sem qualquer orientação ao consumidor final, - aqui no caso, o condomínio - o conjunto motor/bomba, com potência inadequada para aquela piscina. No manual do produto da Jacuzzi nada constava sobre os riscos de instalação de um equipamento superdimensionado.

A piscina onde Flavia teve os cabelos sugados pelo ralo, foi devidamente periciada e por ordem judicial, por quatro vezes esvaziada para facilitar o trabalho dos peritos. A seguir trechos do laudo técnico após essas perícias, também anexado ao processo nr 29.810/99 – 8ª.Vara Cível do Foro Central da Capital – São Paulo.

...... houve substituição do equipamento motor/bomba/filtro, antes com 0,50cv e agora com 1,50 cv

......o conjunto motor/bomba adquirido pelo condomínio possui potência acima das necessidades locais e pelo catálogo juntado no anexo VII, possui uma capacidade máxima de filtragem, de 104, m3 de água. A piscina objeto da presente ação, possui 43 m3, podendo ser considerado o conjunto superdimensionado...

...........não houve responsável técnico quando da substituição do equipamento de 0,50 cv pelo atual de 1,50 cv.........

O Laudo Técnico feito na piscina onde Flavia teve seus cabelos sugados pelo ralo, feito por perito designado pela 8ª.Vara Cível e contendo mais de 200 páginas, foi anexado ao processo de Flavia. Após oito anos, e em última instância – não mais poderei recorrer – o processo dela está seguindo para Brasília, onde, com "muita sorte", deve ser julgado em dois anos, ou seja, o laudo e todas as demais provas anexadas ao processo ficariam mais de 10 anos no limbo jurídico em que se encontra a justiça brasileira.

Além de alertar sobre o perigo existente em ralos de piscinas, este meu protesto é por mais agilidade no JULGAMENTO e CONDENAÇÃO dos responsáveis pelo gravíssimo acidente ocorrido com Flavia. E quem sabe isto possa contribuir para que os 62 milhões de processos - é este o número - que esperam pela decisão da justiça brasileira, possam ser julgados com mais agilidade, o que significaria diminuição do sofrimento de tantas pessoas e sem dúvida, mais respeito com o ser humano.

BOTOX e GASTROSTOMIA.

- 26 de abril de 2007
Julho de 1998. A febre vem cedendo, embora Flavia ainda apresente muita hipertonia. Por conta disso são feitas algumas aplicações de botox, (*) na tentativa de lhe relaxar a musculatura, no entanto, esse procedimento não vem surtindo efeito significativo. Os médicos me dizem que continuar no hospital não vai mudar o quadro clínico de Flavia, e assim, o pediatra e o neurologista concordam em que devemos pensar em ir para casa, onde ela deverá ser cuidada pelo sistema Home Care.

A primeira providência para diminuir as dificuldades em casa é substituir a sonda nasogástrica por uma gastrostomia, já que Flavia continua sem conseguir deglutir. As dificuldades de deglutição são comuns após lesões neurológicas. Qualquer coisa que se coloque na boca, inclusive água, causa engasgos. A mais grave conseqüência dos engasgos é a “pneumonia de aspiração”. Por isso, para prevenir a ocorrência de uma pneumonia, muitas vezes é necessário o uso de outras vias de alimentação. A pessoa deixa então de se alimentar por boca, e pode passar a receber alimento por um tubo, que vai do nariz até o estômago pela sonda nasogástrica, ou que chega diretamente no estômago – sonda gástrica, através de uma gastrostomia. O médico (gastroclínico), através de um procedimento cirúrgico, faz um orifício na barriga onde é colocada uma sonda que leva alimento diretamente ao estômago.

No caso de Flavia que desde a UTI usava a sonda nasogástrica, era necessária a troca por sonda gástrica, até porque a primeira já estava sendo usada por um período considerado longo pelos médicos. Explicaram-me que o uso prolongado dessa sonda não é um procedimento comum, além do que, o pediatra de minha filha me orientou de que em casa a sonda gástrica oferecia mais tranqüilidade. Por isso a cirurgia de gastrostomia foi agendada.

(*) O Botox, muito utilizado para fins estéticos, pode ser também utilizado para fins terapêuticos, com o objetivo de diminuir a espasticidade (hipertonia) comuns em pessoas que sofreram danos cerebrais. Seu efeito no entanto é temporário, e no caso de Flavia, após algumas aplicações mostrou-se pouco eficiente e decidiu-se pela suspensão do uso.

O SOM DE UMA VOZ QUERIDA.

- 22 de abril de 2007
A foto que ilustra este post foi extraida do blog Art & Design de Isabel Filipe.

Continuando o relato sobre a história de Flavia.
Estamos em Junho de 1998. Os dias seguem iguais. Com freqüência ao chegar ao hospital, encontro Flavia péssima, recebendo oxigênio, agitada, hipertônica, febril. Cochila e acorda com o rosto crispado e demonstrando sofrimento. Fico atenta à temperatura dela e quando aumenta, faço compressas para evitar que suba ainda mais. Há momentos em que me sinto perdida, sem saber absolutamente o que fazer, e nessa situação de total desespero, me obrigo a mostrar-me calma, e converso com Flavia, conto histórias, falo de pessoas queridas e canto baixinho. Só lhe escondo minhas lágrimas. Ela, segue alheia a tudo. Mas sofre. Geme, convulsiona, se contorce, transpira, vomita. Sofre. E eu sigo a seu lado, angustiada e me sentindo insuportavelmente impotente.

Quando digo que converso com Flavia, talvez isso possa lhes parecer estranho, pelo fato dela estar em coma. No início, confesso, eu conversava com minha filha por desespero mesmo, mas depois, procurando entender o que me fosse possível sobre pessoas em estado de coma, aprendi que é importante conversar com elas e sempre falar de forma positiva. Os neurologistas me explicaram que até hoje a ciência não sabe o que se passa exatamente no cérebro de uma pessoa em coma. Existem relatos que algumas pessoas que ficaram nesse estado e tempos depois recobraram a consciência, que ao voltarem, se lembravam de muitas coisas que aconteceram ao seu redor. Mas não podemos ter certeza disso. Pode ser que isto ocorra com apenas algumas pessoas, no entanto, os médicos com os quais conversei foram unânimes em me dizer que nunca se deve conversar próximo a uma pessoa em coma, achando que ela não está ouvindo. Ela não só pode estar ouvindo, como pode estar entendendo tudo ou quase tudo. É uma possibilidade. Isto pode depender também do grau do dano cerebral sofrido e claro, varia de um caso para outro. Seja como for, é bom, é importante conversar com uma pessoa em coma. O som de nossa voz é um estímulo auditivo para ela, e é bem possível que nossa voz lhe chegue aos ouvidos como uma doce melodia...

ORAÇÃO E PAZ.

- 17 de abril de 2007

Meus visitantes,

Minha amiga Isabel Filipe, do Art & Design, no primeiro comentário que fez a este post, antes com o título VISITAS HOSPITALARES", falou da sensação de paz que uma destas visitas poderia ter me trazido. E trouxe.

Por causa do comentário de Isabel, não mudei o contéudo deste post mas mudei o título, por achar que este acima, tem uma conotação mais positiva. Uma de minhas preocupações desde que iniciei este Blog para Flavia é de não passar, através de minhas palavras, auto-comiseração.

Algumas situações que descrevo são mesmo difíceis de torná-las mais leves, mas tanto quanto possível, pretendo contar a história de Flavia mencionando e valorizando episódios positivos, que certamente me serviram de aprendizado desde o acidente que deixou minha filha em coma.

Este Blog, além de ser um ALERTA e um PROTESTO é também uma homenagem à minha filha, que até os 10 anos, foi uma criança, muito feliz e muito alegre. Devo isto à Flavia, tanto quanto possível, botar um pouco de alegria em sua história. E para iluminar o seu dia, deixo com vocês o sorriso de Flavia. (Esta foto foi tirada quando Flavia estava com 9 anos, portanto, um ano antes do acidente.)
Abaixo, o texto original do post comentado por Isabel:
"Após uma Declaração de Amor e um Premio, - ah! que coisas boas! - mencionados nos posts dos dias 12 e 13 de Abril, voltemos ao hospital com Flavia.

Continuávamos a receber visitas. Pessoas conhecidas queriam mostrar solidariedade e afeto e não raro, alguns desconhecidos também apareciam por lá, como por exemplo, num sábado à tarde em que um homem apareceu à porta do quarto de Flavia. Não o reconheci e fiquei imaginando quem poderia ser. Era um homem alto e magro, farta cabeleira grisalha e trazia no rosto uma expressão de doçura. Reparei então em seu colarinho eclesiástico. Era um padre. Pediu licença, se apresentou e começou a rezar ao lado da cama de Flavia. Não me fez perguntas sobre o que havia lhe acontecido e silenciosamente, lhe agradeci por isso.

Sem que se ignore o lado de apoio e conforto que representam, visitas à pessoas hospitalizadas devem ser feitas sempre com muito critério. Nem sempre é uma boa idéia fazer visitas hospitalares, principalmente sem prévio aviso. O paciente pode estar com dores, ter dormido mal e preferir ficar só com seus familiares. E nesse caso, por melhor que seja a intenção, a visita incomoda. Se a vontade de ir ao hospital for muito grande, um telefonema antes é indispensável.

PRÊMIO INESPERADO.

- 13 de abril de 2007
Aos meus amigos, e a todos que visitam este Blog:

Fiquei muito contente e confesso, surpresa, com a indicação do Flavia, Vivendo em Coma, como um dos 5 melhores blogs entre os favoritos de Isabel Filipe, do Art & Design, de Portugal. Isabel indicou este Blog para o prêmio Thinking Blogger Award, pelo que lhe fico muito agradecida.



Fiquei bastante comovida e alegre ao ter o Blog de Flavia indicado por Isabel, para este prêmio. Minha alegria se deve principalmente pelo Blog ter sido indicado por uma pessoa pela qual tenho grande admiração, seja por sua postura como ser humano, seja por sua arte, felizmente ao alcance de nossos olhos, a um simples click do mouse. E outra razão para meu contentamento é que a indicação por sí só já é um prêmio. Significa o reconhecimento de meu trabalho. Significa que as pessoas estão entendendo que estou aqui não para despertar pena contando a história de minha filha, reconhecidamente uma história triste, mas que meu objetivo isto sim, é COBRAR da justiça brasileira, respeito para com os direitos de Flavia, é PROTESTAR contra uma justiça lenta por demais, é ALERTAR as pessoas sobre um perigo onde poucos sabem existir - em RALOS DE PISCINA.

Muito ainda há para contar desta experiência de dor e sofrimento, mas também de solidaridade, de aprendizagem, de crescimento interior, de troca e de amor. Pretendo continuar minha narrativa amparando-me sempre na legítima liberdade de expressão, mas me atendo fielmente ao relato dos fatos e ao compromisso com a verdade.

E aqui estão os 5 melhores blogs por mim indicados para o Thinking Blogger Award:

1. Aromas de Portugal - de Mario Relvas


Garanto que vale a pena uma visita a esses blogs, tanto pelo conteúdo quanto pelo visual.
Muito obrigada e tenham todos um bom fim de semana.
Um abraço
Odele

DECLARAÇÃO DE AMOR.

- 12 de abril de 2007
Esta foto foi tirada em 13 de Janeiro de 1995, mostra Flavia dançando com uma moça que acabara de conhecer em um Hotel Fazenda no interior de São Paulo, onde eu, ela e Fernando fomos passar as férias. Flavia estudou jazz e gostava muito de dançar.

Há quase dois anos, Fernando escreveu em seu blog um texto para a irmã, que transcrevo abaixo. De vez em quando, gosto de ler para Flavia, esta declaração de amor de Fernando. Estou certa de que ela gosta de ouvir.

" SUA SALA DE DANÇA
Flávia dança no escuro. Teve tempo para praticar, pois é só o que faz desde os 11 anos de idade, e isso já foi há 7 anos. Ela já sabe bem o que fazer, sem nunca ninguém ter ensinado. Gira e gira até criar um mundinho só seu: onde a luz nunca deixa de brilhar, a cortina nunca fecha e as pessoas nunca param de aplaudir. Seu figurino é sempre o mesmo: um maiô roxo com uma estrela dourada no peito e uma saia rosa que dança junto com suas piruetas. A meia calça é verde e furada no pé, porque Flávia não precisa de sapatilhas. E com essa estranha combinação de cores, ela se torna a mais bonita bailarina que você poderia imaginar. De verdade! O cabelo solto e despenteado e um sorriso sincero com um canino torto são os acessórios que terminam seu desenho caprichado. Flávia não precisa de música para dançar. Seus movimentos já compõem toda a trilha necessária. As notas que faltam, eu tento cantar bem baixinho no ouvidinho dela, um jeito de quem sabe ela me achar no escuro da sala de dança. Assim ela mexe braços e pernas, joga o cabelo, pula de um lado pro outro mostrando que extraordinário mesmo é poder amá-la. E você acha que ela só sabe dançar? Ela toca violino também! Ou era piano? Flauta doce? Faz das notas um abraço apertado, um beijinho no cotovelo, uma pontinha de dedo descansando dentro da sua orelha. Uma risada gostosa que brinca de acompanhar o instrumento. O mundo fora da sala de dança não parece ser tão legal. Ou pelo menos não foi bom o bastante para segurar uma bailarina tão talentosa. Aqui não tem abraço apertado, nem beijinho no cotovelo. Mas tem um menino que só sabe chorar quando é tarde demais..."

Fernando

COM AFETO DÓI MENOS.

- 10 de abril de 2007
Irmã Priscila, diretora do CONSA, colégio onde Flavia estudava, nos visitava um dia no hospital, quando entrou a Fisioterapeuta que atenderia Flavia. Alba, era o nome daquela moça. Tinha a pela branca feito papel, e com voz estridente, dirigiu-se à Flavia, como se ela pudesse compreendê-la:

- Flaviaaaa!!! – Vamos relaxaaaar!!

Percebi a falta de delicadeza da fisioterapeuta e me angustiei.

Diariamente e mais de uma vez, faziam em Flavia, fisioterapia motora e respiratória, esta, dependendo do profissional, me parecia uma verdadeira tortura. Uma sonda de aspiração traqueal, era conectada a um equipamento de sucção a vácuo, preso à parede, próximo à cama de Flavia. Quando a fisioterapeuta abria o tal vácuo, um barulho imitando um chiado forte se fazia ouvir. Aí, ela introduzia a sonda no nariz de Flavia, e aspirava as secreções que ela estava impossibilitada de eliminar por vias normais. Via-se então em seu rostinho, uma expressão de sofrimento, e todo seu corpo estremecia, numa cena absolutamente triste de se ver. Irmã Priscila, não se contendo, correu para o banheiro. Foi chorar. Eu, segurei a mão de Flavia e comecei a rezar.

Senti-me aliviada, quando a fisioterapeuta saiu e entrou Marlene, uma auxiliar de enfermagem muito competente, delicada e carinhosa com Flavia. Sempre que Marlene estava de plantão, cuidava de minha filha com extremo zelo, por isso, nas noites em que Flavia estava sob seus cuidados, eu me sentia mais tranqüila. Infelizmente, perdi o contato com Marlene, mas ela permanece em minha lembrança, como exemplo do que deve ser um profissional de saúde, seja médico, fisioterapeuta, auxiliar de enfermagem ou o que for: Há que existir nesse profissional, um misto de competência e afeto. O carinho dispensado a quem está em uma situação dolorosa, pode até não eliminar a sua dor, mas certamente, torna mais suportável o sofrimento.

TUDO O QUE UM ABRAÇO DIZ.

- 8 de abril de 2007

Freqüentemente eu e Flavia recebíamos visita de amigos lá no hospital. Uma dessas visitas foi de Elena, uma ex-vizinha do prédio onde morávamos – e onde aconteceu o acidente com Flavia. Elena acompanhou minha gravidez de Flavia e conviveu com ela até seus cinco ou seis anos de idade. Eu e Elena tínhamos uma gostosa relação de amizade. Flavia era apaixonada por Andrea e Adriana, as filhas gêmeas de Elena, ambas também crianças lindas.

Ao saber do acidente ocorrido com Flavia, Elena foi vê-la no hospital. Eu não a esperava e nem fui avisada pela recepção de que ela estava subindo. Quando a porta do quarto se abriu e nos avistamos, não houve palavras entre nós, nenhum comentário. Nos abraçamos em pranto. E tudo foi dito nesse longo abraço.

HIPERTONIA.

- 6 de abril de 2007
A saída de Flavia da UTI não significou, infelizmente, uma melhora sensível em seu quadro clínico e de Fevereiro a Maio de 1998, vivemos dias e noites muito difíceis, com ela em febre constante, principalmente à noite. Para baixar a temperatura, além da medicação, davam banho nela ou usavam compressas de tecido, embebidas em álcool.

Apesar do quadro acima, eu me mantinha esperançosa, eu queria acreditar que ficaríamos pouco tempo no hospital. Para mim Flavia teria alta logo e a enfermeira já contratada, tomaria conta dela enquanto eu estivesse no trabalho e Flavia, pensava eu, iria se recuperando. Mas o tempo passava e eu não via melhora alguma. Flavia dormia quando sentia sono, independente se fosse dia ou noite, e dava para perceber que ela havia perdido essa referência – não sabia quando era dia e quando era noite. Quando acordada, tinha crises fortes de hipertonia, ficava agitada e com muita sudorese. Para quem não sabe, hipertonia é uma hiper atividade do tônus, onde contorções involuntárias, causadas por dano cerebral sofrido, levam a deformidades diversas. Hipertonia é também uma rigidez muscular, desencadeada por um comando cerebral desordenado, comum em quem sofre acidentes cerebrais. As conseqüências da hipertonia são muito agressivas. Demonstrando grande sofrimento, Flavia transpirava, gemia e erguia o corpo da cama, se curvando para o lado esquerdo. Por conta dessas contorções, ela adquiriu uma escoliose que se acentuava a cada dia. Para controlar essas crises de hipertonia, Flavia tomava tanta medicação, que o suor dela tinha cheiro de remédio.

DEUS - UMA NECESSIDADE.

- 5 de abril de 2007
No post deste BLOG do dia 30 de Março, eu falava de crença, fé, religião. Este tema é polêmico e de difícil consenso, e assim sendo, melhor não se prolongar.

Só para encerrar o assunto:

Acredito que até seja possível viver sem uma religião, mas de Deus, não se pode abrir mão. Deepak Chopra em seu livro Como Conhecer Deus, (Editora Rocco, 383 páginas) nos diz que Deus não é uma escolha, mas uma necessidade. Acredito que não seja tão simples assim. É fácil ver a presença de Deus quando olhamos para as maravilhas do mundo: Um por-de-sol, um arco-íris, uma flor, um beija-flor...Mas e quanto à dor? Como reconhecer Deus numa situação de intenso e extenso sofrimento? E o que pensar e sentir quando esse sofrimento envolve crianças? Difícil a resposta, mas o fato é que a frase de Deepak Chopra acaba sendo verdadeira: Deus é mesmo uma necessidade, pois não contar com Deus é sentir-se em completa, em total orfandade.

EXPOSIÇÃO? FAZ PARTE DA LUTA.

- 4 de abril de 2007
Após a reportagem do Jornal da Record do dia 27.03.07, sobre LENTIDÃO NOS PROCESSOS JUDICIAIS, em que eu e Flavia fomos filmadas e eu entrevistada, algumas pessoas me contataram por e-mail ou telefone, dizendo que apesar da reportagem ter sido boa, e de ter sido explicado o porquê da lentidão no julgamento dos processos judiciais, principalmente em São Paulo, isso não deixou de ser também uma exposição para mim e para Flavia. Perguntaram se essa exposição não me incomodava.

Quero agradecer às pessoas que demonstraram preocupação comigo e com minha filha, mas existem outras coisas que me incomodam bem mais do que dar uma entrevista para a televisão como fiz, para protestar contra a lentidão da justiça em conceder uma indenização adequada à gravidade dos danos sofridos por Flavia, no acidente que a mantém por tantos anos em coma.

Eu me incomodo mais é com a falta de respeito de alguns, que mesmo sabendo que são culpados por acidentes que devastam vidas, fogem às suas responsabilidades, sem qualquer pudor. Para esses, a lentidão de nossa justiça, claro, corre a favor.

Eu me incomodo mais é por saber que a situação de Flavia não é a única e nem a pior. Alguns casos jamais chegam à justiça, seja porque são decorrentes de acidentes acontecidos com pessoas que não têm acesso a bons advogados, seja porque quem sofreu o dano, por falta de instrução e informação, sequer sabe de seus direitos e portanto, não exerce a sua cidadania.

Eu me incomodo com o passar do tempo, com esses processos lentos sem soluções para problemas graves e urgentes. E me incomoda, me incomoda muito, a indiferença com situações aflitivas, o descaso com o sofrimento, e com a banalização da dor.

Exposição? Pode até ser, mas pode ser também, que de alguma maneira isso possa contribuir para agilizar o julgamento do recurso por uma indenização que permita à Flavia ter a qualidade de vida que ela precisa. Vale tentar.

CASO DE FLAVIA NO JORNAL DA TV RECORD.

- 2 de abril de 2007
No último dia 27 de Março, a TV Record, mostrou no JORNAL DA RECORD apresentado pelos jornalistas Celso Freitas e Adriana Araújo, uma reportagem comigo e Flavia, com o título: LENTIDÃO NOS PROCESSOS JUDICIAIS. A matéria, que teve origem por causa deste BLOG, foi produzida por Ana Claudia Machado e conduzida pelo repórter Mauro Tagliaferri

Transcrevo aqui a reportagem em sua íntegra. A matéria é bastante interessante porque, além de divulgar o caso de Flavia, contém informações importantes sobre a demora nos julgamentos dos processos judiciais em nosso país. Além de Flavia, outras pessoas estão há anos esperando por nossa morosa justiça, o que é no mínimo, injusto.

Celso Freitas:
– Nove anos em coma, e só agora chega à justiça em Brasília, a ação pelo acidente que mantém Flavia na cama.

Adriana Araújo:
– A menina, que teve os cabelos sugados pelo ralo de uma piscina, virou mulher e precisa de cuidados especiais, mas a lentidão do processo nos tribunais dificulta a luta da mãe, pela indenização.

Mauro Tagliaferri:
– Para a filha, são nove anos presa a uma cama, para a mãe, são oito anos presa a um processo. Em janeiro de 98, aos dez anos, Flavia brincava com o irmão quando se afogou no prédio onde morava, teve o cabelo sugado e preso pelo ralo da piscina. Ela ainda foi ressuscitada, mas sofreu danos cerebrais. O acidente deixou a menina em coma e até hoje, aos 19 anos, ela permanece no mesmo estado. Em março de 99, a mãe foi à Justiça cobrar indenização. A primeira sentença, saiu depois de cinco anos. Houve recurso e mais dois anos para uma nova decisão. Odele obteve indenização, mas achou o valor pequeno e vai recorrer outra vez. Flavia não se movimenta e nem interage, apenas consegue manter os olhos abertos e é alimentada por uma sonda. Só neste mês a ação de Flavia chegou ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, até aqui ela estava na justiça paulista, a mais atarefada do país, responsável por cerca de 40% dos processos brasileiros.

Jarbas Machioni: (presidente de Comissão da OAB)
– São Paulo tem uma das piores justiças em termos de morosidade e aparelhamento do Brasil, se não for a pior.

Mauro Tagliaferri:
- Dados da Ordem dos Advogados do Brasil mostram que o recurso no tribunal de justiça leva seis anos para ser julgado em São Paulo, contra seis meses no Rio de Janeiro e até três meses no Rio Grande do Sul.

Jarbas Machioni:
- O problema de São Paulo é gestão, principalmente gestão. Nós precisamos de uma solução técnica, compreender o nosso problema e apresentar solução com administradores e não juízes e advogados, quer dizer, nós podemos participar, mas tem que ser técnico.

Mauro Tagliaferri:
- Em todo o país existem 62 milhões de processos esperando julgamento, o de Flavia deve ter uma solução dentro de dois anos, com muita sorte.

Celso Freitas:
- A assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo informou em nota que desde 2005, o Tribunal está tomando medidas para melhorar sua estrutura e que a lentidão no processo de Flavia se deve também ao volume de casos em andamento.

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Pois é. Como digo na entrevista, oito anos esperando por uma "sentença adequada". É o que ainda luto para conseguir para Flavia, - uma sentença adequada - já que uma sentença justa seria impossível, como impossível é pagar o sofrimento e recuperar o tempo perdido.
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