Flavia, aos 10 anos de idade, em foto de 01.01.1998
A vida não me avisou que essa dor chegaria assim tão de repente, assim tão forte e tão pungente. A vida não me avisou que daí pra frente, essa dor seria tatuada em minha e que eu teria que conviver, - diariamente - com uma nova e dolorosa realidade para a qual eu não estava preparada. E quem estaria?!
Como me preparar para não mais ouvir a doce e alegre voz de minha filha? A não receber mais os seus abraços e beijinhos, enfim o seu carinho?! Como me preparar para a ideia de que, de acordo com os diagnósticos médicos, devido ao severo dano cerebral sofrido com o afogamento, o estado de coma de Flavia seria irreversível?! Como assim, vida?! Flavia não mais seguiria com seus estudos, não faria uma Faculdade, nunca teria um namorado, nunca casaria nem nunca me daria netos?! E os sonhos dela, como me preparar para não ver os sonhos de minha filha se realizando? Como assim vida?!
Sim, assim seria, e assim tem sido há 21 anos completados hoje. Tive que me acostumar a essa nova realidade que a vida colocou diante de mim. E em assim sendo, eu só conseguia ver duas opções: Desistir ou lutar. E desistir, deixar me anular pela dor, significaria abandonar meus filhos, Fernando e Flavia, o que para mim estava fora de cogitação.
Na luta que decidi enfrentar, além da rotina de cuidados diários com minha filha, busquei na justiça, os direitos de Flavia. E importava-me em especial , manter e preservar a sua cidadania, o seu direito à vida, com a maior dignidade possível. Nada paga o sofrimento, mas negligências devem ser punidas. Essa punição poderá servir de alerta para que deixem de ocorrer novas negligências.
A segurança das piscinas no Brasil, continua, infelizmente a ser negligenciada. Vem melhorando, é verdade, mas ainda falta muita atenção e conscientização por parte dos proprietários e administradores, com relação à segurança dos usuários de suas piscinas, prova disso, são os constantes acidentes, quase sempre fatais, que vemos ocorrer pelo Brasil afora, vitimando crianças, meninos e/ou meninas, seja por falta das tão importantes cercas de proteção e portões autotravantes, seja por falta dos dispositivos de segurança que, se instalados nas piscinas, evitariam a devastadora sucção dos ralos.
Desde 2007, a Lei Federal para Segurança nas Piscinas, transita no limbo jurídico de Brasilia. Um avanço significativo na segurança das piscinas, foi que em Setembro de 2018, a ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, atualizou a norma 10339, graças ao trabalho criterioso de um grupo de empresários do setor, que por dois anos se reuniram regularmente trabalhando na atualização dessa norma, de forma a incluir na 10339, todos os dispositivos necessários a tornar uma piscina segura. Sou muito grata à ABNT e a quem trabalhou para que a atualização da norma sobre segurança nas piscinas, se tornasse uma realidade.
Esperemos agora que a norma 10339 da ABNT seja, o quanto antes, divulgada, conhecida e colocada em prática por proprietários e administrados de piscinas, para que possamos ver, dia após dia, a significativa redução dos trágicos acidentes causados nas piscinas de nosso país. Toda criança merece e tem o direito e brincar e nadar em uma piscina segura.
Um carinhoso abraço a todos e que 2019 seja um ano de muito amor e saúde para vocês e seus familiares.