Flavia aos 3 anos, conversando comigo.
“Mami , por que você insiste para eu comer carne? Eu não gosto de carne!
“Mami, quantos anos eu preciso ter para você me ensinar a cozinhar?
“Mami, por que o cabelo da vovó Júlia não é crespo como o seu?
Essas eram algumas das muitas perguntas e conversinhas que Flavia tinha comigo. Sempre gostei de conversar com meus filhos. Sempre.
As crianças gostam de conversar com seus pais e lhes fazer muitas perguntas. As crianças são tagarelas. Mas nem sempre os pais têm paciência para lhes dar atenção, responder suas dúvidas. Ouvi-las. É comum os pais se irritarem com a tagarelice de seus filhos.
Hoje, quase 14 depois do acidente que deixou Flavia em coma vigil irreversível (ou estado vegetativo persistente), quando olho para minha filha, o silêncio de Flavia me devasta. Hoje, quando tudo o que eu queria era ouvir de novo a voz de minha menina, gostaria de dizer aos pais de crianças extrovertidas e tagarelas como Flavia era, para ouvi-las com amor, porque nunca sabemos quando a voz de nossos filhos poderá ser substituída pelo silêncio. Um doloroso silêncio.
Hoje a voz de Flavia é para mim uma imensa saudade. Como escreveu Eliane Brum, nesta matéria da revista Época. Saudade de sua voz.
Bom domingo a todos e até o próximo post.