Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

Isabella: Crime e condenação. Sinal de esperança em nossa justiça...?

- 28 de março de 2010
   
 Isabella Nardoni

Todo o Brasil  já sabe: Terminou na madrugada deste sábado, no Fórum de Santana, zona Oeste de São Paulo,  o julgamento do casal Nardoni. O pai e a madrastra  foram condenados pelo assassinato  da pequena Isabella, ocorrido há dois anos quando a criança foi jogada do  6º  andar  do apto.do casal.
Sem testemunhas presenciais do crime, o trabalho pericial foi de fundamental importância para a condenação do casal. O pai, Alexandre Nardoni,  foi condenado a 31 anos,1 mês e 10 dias, a madrastra, Anna Carolina Jatobá,  a 26 anos e oito meses.

A defesa tem direito a recurso, mas  o promotor  que atuou (brilhantemente) no caso, Francisco Cembranelli, diz não acreditar  que haja  modificação da sentença. Que assim seja.  Que possamos ver com mais frequência a justiça acontecendo em nosso país. O vazio vai ficar para sempre, mas que possamos sentir, pelo menos alívio à nossa dor,  por ver os algozes de nossos filhos,CONDENADOS.

ADENDO:

O primeiro comentário ao meu texto me leva a fazer este adendo: Porque reconheço que Calebe tem razão. Muito provavelmente, a justiça para Isabella só foi feita porque a mídia "ficou em cima" o tempo todo. Mas não são todos os casos que recebem a atenção da mídia. E é uma pena porque como já tenho dito em posts anteriores, a mídia tem um papel fundamental para que os crimes não caiam no esquecimento. Sabemos que muitos casos se arrastam por anos na justiça, exemplo do caso de Flavia, do crime   mencionado  por Calebe em seu comentário e de tantos outros por este Brasil afora,  sem que os culpados sejam condenados.

Calebe, obrigada por seu comentário. É  totalmente pertinente.

Flavia, Sirlei, Isabella...aguardam por justiça. Ainda...

- 20 de março de 2010
O texto deste post de Lucy Lacey do blog Hippos, (Estados Unidos) me leva de volta a um caso que aconteceu há três anos aqui no Brasil, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro: O espancamento da empregada doméstica Sirlei Dias de Carvalho Pinto, 34 anos. Agredida por cinco jovens a socos e pontapés, Sirlei até hoje luta na justiça por uma indenização.
Trecho copiado do DIA ON LINE:

“...Usado para defender o rosto das pancadas, o braço direito ficou com limitações no movimento e precisa ser operado. O problema a impede de tarefas simples, como torcer roupa, arear panela e fechar completamente a mão.”

Para os advogados dos agressores de Sirlei, o pedido de ressarcimento financeiro é “absurdo” e “uma forma que a doméstica conseguiu para enriquecer...”

Conheço bem esses argumentos usados para defender quem não deveria ter defesa diante de vidas devastadas por violência (no caso de Sirlei e Isabella) ou negligência.(no caso de Flavia) Também eu tive que ler, engasgada de indignação, esses mesmos argumentos usados pelo Condomínio Jardim da Juriti e pela empresa JACUZZI DO BRASIL ambos réus pelo acidente que deixou Flavia em coma vigil irreversível. Os réus, além de argumentarem que eu queria enriquecer com a indenização pleiteada,em sua defesa me chamaram de “mãe relapsa” e culpam a mim e a própria Flavia pelo acidente.

Trecho copiado de um dos vários recursos apresentados pelo Condomínio Jardim da Juriti:

"...Pleiteia por fim seja o condomínio isentado de qualquer pagamento relativo ao tratamento da menor Flavia, por entender ser este de incumbência de quem deu causa ao acidente – a mãe e a própria vítima...”
"...O acidente ocorreu.... houve culpa da própria vítima por provavelmente brincar junto ao ralo da piscina"

Inacreditável. Além de mim o Condomínio Jardim da Juriti culpa Flavia (!!!) por ter ficado presa ao ralo pelos cabelos. Se o ralo da piscina  estivesse funcionando dentro dos padrões de segurança, os cabelos de Flavia não teriam sido sugados. E temos visto  documentado neste blog que antes e depois do acidente ocorrido com Flavia,  ralos de piscinas funcionando fora dos padrões de segurança têm feito muitas vítimas, principalmente crianças.

Em outro recurso do Condmínio Jardim da Juriti, está escrito:
“... a indenização por danos morais não pode servir em hipótese alguma de trampolim para o enriquecimento....”

Enriquecimento?! Como já escrevi em um post anterior: “Rica eu era senhores, quando Flavia era saudável e seu sorriso lindo iluminava tudo e todos.”

Em um dos também muitos recursos da Jacuzzi, pode-se ler:
“... a .mãe foi relapsa ao deixar Flavia nadando sozinha”.

Eu já esclareci isso muitos vezes: Flavia não nadava sozinha. Com ela na piscina estavam três adolescentes, inclusive seu irmão, meu filho Fernando, na época com 14 anos.

Em outro recurso da empresa, a JACUZZI DO BRASIL diz:

..”O valor de R$ 52.000,00 (cincoenta e dois mil reais) a título de danos morais para cada apelante ( Odele e Flavia) já é alto e levou em consideração todos os elementos que devem ser considerados para a fixação desta indenização."

O que dizer diante de um argumento desses?! E como entender que a Justiça mantenha-se omissa diante disso?

Quando abrimos um processo contra quem quer que seja, todos sabemos que não adianta levar só argumentos. É necessário provar o que estamos dizendo. No caso de Flavia, foram várias as provas apresentadas e anexadas aos laudos. Perícias técnicas foram feitas onde se comprovou a irregularidade no sistema de sucção que lhe sugou os cabelos e lhe deixou presa embaixo dágua até seu quase afogamento.
Essa perícia foi feita por profissional não escolhido por mim, mas pela própria justiça.

O Condomínio errou – FOI NEGLIGENTE - quando trocou sem orientação técnica o sistema de sucção da piscina por outro inadequado.

No meu ponto de vista e de um Ministro de Justiça (Luis Felipe Salomão) A Jacuzzi do Brasil errou, - FOI NEGLIGENTE - quando não informou em seus manuais, para o TIPO DE ACIDENTE que seu equipamento poderia causar e  que acabou por vitimar Flavia: A sucção dos cabelos pelo ralo.

Mas apesar das provas apresentadas, a justiça condenou o Condomínio Jardim da Juriti, mas a empresa JACUZZI DO BRASIL, até agora, saiu inocentada deste processo.

Estes são três  dos muitos exemplos, de pessoas que aguardam por JUSTIÇA no Brasil.

FLAVIA: Depois de um acidente que lhe deixou em coma vigil irreversível aguarda há mais de 12 anos, por uma indenização digna que lhe permita seguir vivendo, com um mínimo de qualidade de vida.

SIRLEI: Depois de uma surra que lhe deixou seqüelas, aguarda há mais de três anos por uma indenização. Enquanto aguarda, passa por constrangimentos e privações.

ISABELLA : Na próxima segunda-feira, dia 22 de Março, começa - finalmente - o julgamento do casal Nardoni, Alexandre e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta da criança Isabella, morta em Março de 2008, na época com 5 anos, ao ser jogada da janela do edifício em que morava o casal, na zona norte de São Paulo. Informações e depoimentos sobre este crime hediondo, aqui, no blog de Isabella.

Algumas perdas e danos  são tão devastadores, que nenhuma indenização paga ou apaga as marcas que nos deixaram no corpo e na alma. Quem ou o que pode pagar ou apagar o sofrimento?! Mas cabe à justiça agir com celeridade e rigor contra quem quer que seja – poderosos ou não. Cabe à Justiça punir EXEMPLARMENTE os culpados por crimes, violências e negligências que destroem vidas e proteger quem de justiça precisa.

BRASIL, PAÍS DA IMPUNIDADE E DA INJUSTIÇA? MUDA BRASIL!!!

Pessoas em coma: A importância da música e da voz humana.

- 6 de março de 2010
Tempos atrás publiquei aqui um post onde contei que Flavia tocava teclado e que participava de apresentações públicas em audições organizadas por sua escola de música, a Harmony Music Center de Moema, bairro onde morávamos em São Paulo.

Este livro, CUIDAR DE PESSOAS e MÚSICA, - Uma Visão Multiprofissional, eu tive o privilégio de receber de presente da autora, a Dra. Eliseth Ribeiro Leão (*). Li  encantada este livro que  aborda o tema da música no cuidado humano,  a música no controle da dor crônica, a música e a criança hospitalizada, cantoterapia, etc. É uma obra maravilhosa, uma referência para profissionais da área da saúde em geral.

(*) Eliseth Leão é graduada em Letras e em Enfermagem. Diletante musical, iniciou em 1996, seus estudos sobre a influência da música na saúde humana. Realizou seu mestrado e doutorado pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, sobre a utilização da música no controle da dor. Concluiu seu pós doutorado relacionado à música, e idosos institucionalizados junto à Universidade Marc Bloch (Université des Sciences Humaines de Strasbourg, na França). É fundadora do Projeto, Uma Canção no Cuidar, palestrante nacional e autora de diversas publicações, entre elas os livros Dor, 5º. Sinal:reflexões e intervenções de enfermagem (Martinari) e Qualidade em Saúde: indicadores como ferramentas de gestão (Yendis).

Fonte: Orelha do livro de Dra.Eliseth que também é  Coordenadora de Ensino e Pesquisa
Sociedade Hospital Samaritano - SP

No livro da Dra.Eliseth, há um capítulo dedicado a pacientes em coma (autoras: Ana Claudia Puggina e Maria Julia Paes da Silva)  e fiquei contente ao perceber que desde o acidente venho praticando com Flavia , - por intuição - os ensinamentos com relação à influência da música e da voz humana em pessoas em coma.

Desde que Flavia deu entrada na UTI mais de 12 anos atrás, tive o cuidado de colocar música para ela ouvir. Com um fone de ouvido em volume suave, eu colocava as músicas que ela gostava, como por exemplo, de Roberto Carlos e da dupla Sandy & Júnior. E quando saiu da UTI e foi para o quarto do hospital onde ficou por quase um ano, pelo menos uma vez ao dia, do trabalho eu telefonava e pedia para que a auxiliar de enfermagem colocasse o telefone no ouvido de Flavia e eu “conversava” com ela. Embora com o coração destroçado, por entre as lágrimas eu lhe falava de coisas positivas e cantarolava uma de suas músicas preferidas. E mesmo sem receber resposta verbal de Flavia, eu “sentia” que o som de minha voz falando com ela ou cantando para ela, era algo positivo e lhe fazia bem.

Passados mais de 12 anos, e com minha filha infelizmente ainda em coma, continuo dando enorme importância aos sons que Flavia ouve. Oriento as auxiliares de enfermagem a falar com Flavia sobre os procedimentos que vão realizar com ela: Por exemplo:

- Flavia, vamos agora escovar seus dentes, pentear seus cabelos, trocar sua roupa. Oriento também que sempre que for preciso tocar seu corpo, fazê-lo de forma delicada, cuidadosa, respeitosa. Pedir licença, dizer bom dia e até logo.

Não falar muito alto perto dela, não bater portas, e procurar criar um ambiente ao seu redor, de atenção e cuidados, de calma e tranqüilidade. De amor e paz. Para isso, procuro estabelecer uma relação de afeto com os profissionais que trabalham com minha filha.

Seleciono com cuidado as músicas que coloco no pequeno aparelho de som de seu quarto. À noite, quando a auxiliar de enfermagem deixa o plantão, e sou eu a cuidar de Flavia, coloco no aparelho de som, no computador ou no seu pequeno Ipod, as mensagens de voz de nosso amigo António Peciscas, de Portugal, cuja voz doce e carinhosa, é uma canção de ninar para Flavia.

Passado um tempo, eu também adormeço no quarto ao lado. E não demora muito eu e Flavia, de mãos dadas, saímos voando pelo mundo afora. Eu e ela. Livres... Livres...

Um abraço a todos e até o próximo post.
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