Foto retirada do site da Sodramar
Desde que o criei, em janeiro de 2007, nunca fiquei tanto tempo sem escrever no blog de Flavia. Três meses. Mas esta pausa não significa eu ter desistido de lutar pela Lei Federal para Segurança nas Piscinas do Brasil. O cansaço é temporário, mas é constante minha disposição para cobrar das autoridades esta tão necessária Lei.
12 de Outubro - Dia da criança. O que dar de presente para Flavia? Tinha 10 anos quando o acidente numa piscina sem segurança lhe roubou a infância. 10 anos. Depois, 15, 20, e agora prestes a completar 25 anos os presentes que fazem bem à Flavia são, respeito, cuidados, amor, atenção e carinho. Como por exemplo o carinho transmitido neste texto já publicado aqui e que em 2008, minha amiga e escritora Leila Jalul escreveu para Flavia e que com frequência releio para ela.
“SE EU FOSSE...
Um anjo, ainda que por uns momentos, iria visitar Flavinha, sussurraria palavras mágicas, faria cócegas nos seus pés e na barriga, como fazem as mães nos filhos pequeninos, pelo prazer de ouvir as gargalhadas dobradas. Não importaria que depois viessem os soluços, tivesse de fazê-la tomar três goles dágua para que o ugle, ugle parasse de vez. Não temeria sequer colocar-lhe na testa um fio de linha vermelha emboladinha e umedecida com saliva.
Se fosse um anjo, não esse de verdade que ela tem, mas daqueles que a gente conhece das pinturas nas abóbadas das igrejas, pequenininhos, entroncadinhos, passaria dias e noites sorrindo para, diante dos meus malabarismos angelicais, ela esboçasse ainda que um mínimo daquela alegria criança que tinha antes do sono que já se prolonga.
Anjo não sou, mas bem que poderia ser uma fadinha esplendorosa e faiscante, varinha mágica na mão direita, asas de libélula e traje de bailarina. Se fosse uma fadinha sobrevoaria nas dependências do seu quarto e, tal qual um beija-flor, pararia bem próximo ao seus ouvidos , recitaria versos e cantaria canções de encantamento, só para vê-la, preguiçosamente, tentar acordar.
Fada não sou.
E se fosse um palhacinho, ainda com meu coração triste, será que conseguiria? Roupas coloridas, maquiagem forte, exagerada, voz de paspalha, perguntaria e Flávia responderia, na mais velha das velhas tradições do circo:
- Hoje tem marmelada?
- Tem sim, Senhor!
- Hoje tem goiabada?
- Tem sim, Senhor!
- E o palhaço, o que é?
- É ladrão de mulher!
Será?
Sou sem graça, mas daria o melhor do meu espírito parvo para entregá-la e reintegrá-la à vida. Odele, Flávia e o irmão teriam muito o que conversar. Ririam juntos.
......”
Infelizmente Leila, passados quase 15 anos desde o dia 06 de janeiro de 1998, ainda não temos motivos para sorrir. Seja porque Flavia continua em seu sono sem fim, seja porque as autoridades também ainda não acordaram para o grave problema de falta de segurança nas piscinas do Brasil. A tão necessária lei, não só ainda não saiu, como não se tem notícias de seu andamento. Por isso, neste dia 12 de Outubro dia de Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil, em que se comemora também o dia da criança, um presente valioso para todas elas poderia ser a Lei Federal de Segurança nas Piscinas. Criança feliz, é criança brincando em segurança.