.....Continuação
Junto com Flavia na piscina estavam, além de Fernando, dois amigos dele de idades parecidas – entre 14 e 15 anos. Os adolescentes conversavam debruçados na borda da piscina e não perceberam Flavia se afogando atrás deles. Um garoto morador do 12º andar foi quem viu pela janela de sua área de serviço, Flavia imóvel sob as águas da piscina. O garoto gritou e avisou Fernando que se virou e viu a irmã parada na água, de rosto para baixo, bem na direção do ralo da piscina. Quando ele a pegou nos braços para retirá-la da água, notou resistência e percebeu que os cabelos de Flavia estavam presos ao ralo e por mais que Fernando tentasse não conseguia retirar a irmã da água. Então, num ato de desespero ele a puxou com força arrancando uma grossa mecha de seus cabelos. Joaquim, funcionário da portaria do prédio que havia sido avisado também pelo morador do 12º andar, ajudou Fernando a retirar Flavia da água. Ela já estava inconsciente.Tivera parada cardio respiratória.
Ao redor de Flavia alguns moradores do prédio tentavam ajudar. Havia um médico cardiologista que fazia manobras de ressucitamento. Outro médico do prédio vizinho o ajudava. Entrei em pânico. Eu precisava fazer algo, mas não sabia o que. Meu primeiro pensamento foi pegar Flavia nos braços e levá-la ao hospital mais próximo, mas fui impedida por um dos médicos que me dizia que se ela fosse removida naquelas condições chegaria sem vida ao hospital. Senti-me confusa e desesperada. Dona Eurídice, a mulher do zelador, já havia chamado o resgate do corpo de bombeiros e as pessoas me diziam que eu deveria esperar pela chegada deles e me acalmar. O que eu senti enquanto aguardava o socorro para minha filha é difícil explicar: Um nó na garganta, um aperto no peito, náusea, um desespero imenso. Achei que o socorro demorava a chegar mas repetiam para mim que essa sensação era devido a minha aflição. Flavia continuava sem dar sinal de vida. Finalmente o serviço de resgate do corpo de bombeiros chegou e entubaram Flavia para transportá-la ao hospital.
Entrei junto no carro do corpo de bombeiros. O médico cardiologista morador do prédio e sua mulher seguiram junto comigo. Flavia foi então levada para um espaço improvisado como heliporto, na esquina da Av.Ibirapuera com a República do Líbano, em Moema. Dali seguiria de helicóptero para a Santa Casa. O carro do corpo de bombeiros assim como o helicóptero causaram curiosidade e o trânsito na região virou um caos. Isto também chamou a atenção da imprensa que passou a assediar o prédio nos dias seguintes, mas o síndico fugia dos repórteres e me orientava a não dar entrevistas. Só algum tempo depois fui entender porque. Ele receava complicações para o condomínio e tinha motivos para isso.
Não me foi permitido seguir com Flavia no helicóptero para a Santa Casa e sem condições emocionais de dirigir, um vizinho me levou ao Hospital. Antes de sairmos, pelo celular avisei meu ex marido, pai de meus filhos e algum tempo depois ele chegava ao hospital acompanhado de Fernando.
Flavia deu entrada na UTI da Santa Casa de Misericórdia com nível de consciência 3 na Escala de Glasgow. Para quem não sabe, a Escala de Glasgow é uma escala neurológica que mede o nível de consciência em casos de coma. Este nível varia de 1 a 15. O nível 3 é atribuído a traumas graves. Flavia estava em coma profundo, com atividade cerebral muito baixa, próximo a uma morte cerebral.
2 comentários
Odele, eu tenho acompanhado seu blog e confesso que sempre fico muito emocionado, quase sempre choro. Parabéns pela idéia do blog. É uma história que, mesmo independente da injustiça, merece ser contada e lida por todos.
Cara Odele, sou médico e continuo perplexo com a sua história. Mais um detalhe para você, espero que não cause mais sofrimento. A Escala de Coma de Glasgow vai de 3 a 15, ou seja, não existe Glasgow menor que 3, que é a graduação mais baixa de toda a escala... significa dano neurológico gravíssimo. Terrível... Conte comigo para sua divulgação...
Abraço..