Este blog, criado em janeiro de 2007, é dedicado à minha filha Flavia e sua luta pela vida. Flavia vive em coma vigil desde que, em 06 de janeiro de 1998, aos 10 anos de idade, teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde morávamos em Moema - São Paulo. O objetivo deste blog é alertar para o perigo existente nos ralos de piscinas e ser um meio de luta constante e incansável por uma Lei Federal a fim de tornar mais seguras as piscinas do Brasil.

Esperar: É só o que nos resta fazer?!

- 3 de agosto de 2009
Leila Jalul
Cronista acreana

As mães que o digam o quanto vale e pesa uma barriga até que chegue o grande dia da rebentação. No ontem, sem o auxílio luxuoso da tecnologia, além da barriga, o peso da espera para a utilização dos tons rosados e azuis dos enxovais. Seria Maria? Seria João? Tudo era mistério até que se ouvisse o brado forte do chorão ante o impacto com o mundo exterior. Uma palmada no bumbum e... buá!!!

Agora é diferente. Tudo se planeja e organiza. Até se escolhe os conselhos zodiacais para a marcação da data da concepção. Tudo vale a pena quando o assunto é vida. A maior espera é compensada, principalmente se não houver um atrapalho por caso fortuito ou força maior. Vida que chega, apaga o sacrifício da espera e os desconfortos do esperar.

Difícil é aguardar o que ficou de chegar e não se pode prever quando. Angustiante é ficar na dependência de terceiros para a solução de questões fundamentais para que se continue a vida ou se alivie as dores do viver. É de causar revolta quando se constata a lentidão da justiça, principalmente quando se trata de reconhecer direitos dos cidadãos comuns. Mais revoltante, ainda mais, é ver sentenças judiciais sendo descumpridas, numa afronta ao poder constituído. Vivemos num país que precisa de heróis, que não reconhece o direito adquirido e nem respeita os atos jurídicos perfeitos e as sentenças transitadas em julgado. Uma lástima!

Aposentados esperam a morte sem que recebam o que lhes foi usurpado quando ainda produtivos. Estão aí os benditos precatórios se arrastando por anos a perder de vista. Os noticiários mostram o descaso e a inépcia para com aqueles que ajudaram a construir o país. O Poder Judiciário cala-se. Recorrer a quem?

Não penso num texto com citações. Não. Dispo-me de qualquer titulação. Apenas reflito a barafunda do sistema brasileiro, com tantos recursos, com tantos renomados, com tantos luxuosos escritórios, com tanta roubalheira, onde se encostam os que não podem pagar os convites da festança? Pode um cristão de classe média baixa pagar pelos desagravos e agravos, principalmente quando da sentença pede-se a continuidade de apenas poder sobreviver?

Agora, quando escrevo, não penso apenas no caso de Flávia. Neste, já houve sentença condenatória, se não de todos, sacrificando, pelo menos o menor dos culpados: o condomínio, principalmente se o sistema instalado já veio no pacote da Jacuzzi. Salvou-se a mãe, pelos tribunais paulistas julgada co-responsável no acidente, como se tivesse praticado abandono de incapaz. A menina brincava numa piscina rasa, aparentemente inofensiva, na companhia do irmão e de mais dois adolescentes e, não fosse o ralo inapropriado, estaria ilesa. Eximiu-se a responsabilidade do maior dos responsáveis. E assim acontece em muitos outros episódios e em situações onde quem pode pagar mais, pode tudo. De pronto pode-se constatar: ou o esperneador contenta-se com a sentença, ou vai esperar por mais vinte anos para que se faça valer o que muitos pensam que deveria. Para que servem os agravos? Para que serve o dinheiro? Para que servem os escritórios de luxo dos renomados?

Num apanhado de fatos recentes, o moço negro, dentista, morto pela polícia paulista, sem medo de errar, não teve o mesmo tratamento dado às celebridades, tipo artistas em evidência na mídia ou tipo velhos conhecidos políticos com seus atos secretos. O tratamento não é o mesmo. Nem no tocante ao tempo do processo, muito menos, quando é o caso, no da indenização. Parece que todos se rendem ao mais forte, aos poderosos e sem se lixarem para o senso crítico dos que de perto acompanham os descalabros.

Agora, quando escrevo, não penso apenas no caso de Flavia, mas não há como não ver nesta menina um exemplo de como é falha a nossa justiça. O que desejamos, - porque é nosso direito - é que a justiça não faça diferença entre o negro e o branco, entre o pobre e o rico, entre o anônimo e a celebridade. Desejamos, porque é nosso direito, que a justiça seja célere e que se faça não em parte, como ocorreu no caso de Flavia, mas que a justiça se faça sempre por completo.

Leila, MUITO OBRIGADA por sua colaboração para o blog de Flavia. E como você bem diz:

“Angustiante é ficar na dependência de terceiros para a solução de questões fundamentais para que se continue a vida ou se alivie as dores do viver”.
Sim Leila, é angustiante.
Até o próximo post.

20 comentários

Glória disse...

Angustiante também não poder fazer nada pra aliviar a dor que vc sente, amiga...

Luci Lacey disse...

Odele

... porque é nosso direito ...

Quem podera fazer valer a justica e nossos direitos?

Texto perfeito de Leila.

Mas, a luta continua e estamos nela com vcs.

Beijinhos em vcs duas.

Boa semana.

Fatyly disse...

Um texto SENSACIONAL todo ele cheio de VERDADES SENTIDAS E REAIS e a vossa realidade é a realidade portuguesa em que o povo espera e desespera por JUSTIÇA!
"O que desejamos, - porque é nosso direito - é que a justiça não faça diferença entre o negro e o branco, entre o pobre e o rico, entre o anônimo e a celebridade. Desejamos, porque é nosso direito, que a justiça seja célere e que se faça não em parte, como ocorreu no caso de Flavia, mas que a justiça se faça sempre por completo."

É de facto angustiante e tu e outras mães e pais como tu é que podem dizer da sua justiça, como dói...mas estarei sempre do teu lado, fazendo o que posso e o que poderei fazer mais? Neste momento apenas agradecer a Leila pelo "grito" emitido neste texto e abraçar-te muito e de mãos dadas todos estaremos lutando para que te mantenhas no "teu posto de vigia" e seguiremos os teus passos.

Um grande beijo e aquele chamego de sempre para sempre

Unknown disse...

Odele amiga mía, luego paso a leer con atención el texto...tienes mimos para las dos en:
http://gracielaroth.blogspot.com/2009/08/mimos-de-lunes.html
Besos y abrazos enormes!!!

Leonor Varela disse...

Esperar e ter muita fé

"Quando as coisas não acontecem
do jeito que a gente quer, é porque
vão acontecer melhor do que a
gente pensa."
Beijos.

Letícia Losekann Coelho disse...

Texto perfeito da Leila...
É angustiante saber que precisamos esperar por terceiros para vermos a justiça... É angustiante contar com nossa justiça (?) e mais ainda quando nosso sistema judiciário é viciado em não defender o cidadão.
Odele te admiro muito, não me imagino em uma situação dessas.
Beijos em ti e em Flávia!

Paula Raposo disse...

Angustiante a impotência. Beijos.

Maria Soledade disse...

Odele, volta e meia venho visitar-te a ti, e à tua Flavinha. Que dizer desta justiça nojenta, podre, adormecida para os mais pobres?!!Porque nunca são os Grande Tubarões os verdeiros culpados?Porquê? A justiça foi, é, e será concebida para os Todos-Poderosos!!!A diferença de classes sociais existe, está aqui bem patente, e quem desmentir apenas quererá tapar o sol com a peneira para que os mais desprotegidos acreditem na suposta Igualdade!!!!


Sempre a teu lado...sempre ao lado da tua pequenina...

Mil beijinhos e Muita, Muita força

**"Belo" o texto da Leila. Muitos textos assim pode ser que deem frutos que acordem as pessoas para esta realidade tão injusta, tão cruel!...

Taylor de Freitas disse...

Ola. Achei seu blog por acaso. Li muitas das postagem. Não sei o que dizer, apenas registro meus desejos de força para que continua lutando pois ela merece, voce merece e talvez algo que não saiba, outras pessoas que também tem problemas semelhantes a utilizam e utilizaram como inspiração e incentivo. É o que posso no momento. Felicidades e que tenha sempre o necessário.

peciscas disse...

Como sempre, a Leila escreve tão bem que quase ficamos sem palavras para dizer algo mais.
Ela retrata exemplarmente o que se passa nesta justiça com letra minúscula que discrimina, age de olhos bem abertos (deveria, segundo os cânones, ser cega), protela, enreda, é parcial.
E não é só aí no vosso país.
Aqui acontece o mesmo.
Ainda agora, os media andam cheios com o julgamento de um "velho" político acusado de vários crimes, entre os quais corrupção e branqueamento de capitais. O homem, que anda a ser julgado há bastante tempo, foi agora condenado (pudera, tantas ele fez!) a 7 anos de prisão. Pois teve direito a tranasmissões directas na rádio e Tv, chegando-se mesmo ao cúmulo de transmitir uma conferência de imprensa onde o político, sorridente, quase a gozar com todos nós,declarava "ter a consciência tranquila" e fazia uma campanha despudorada para a sua reeileição na presidência de uma câmara municipal e já tentava influênciar os juízes que hão-de continuar a julgar o caso. Porque, é claro, que recorreu da sentença. E como tem muito dinheiro (só em contas na Suiça tem milhões de euros, que foi acumulando ao longo da sua vida política...) vai poder continuar, por muitos anos, a beneficiar das teias que os advogados caros tecem para livrarem os poderosos.
Como muito bem diz a Leila, esta é a justiça a que uma parte da população tem direito. A outra parte, que é a imensa maioria, não vem nos jornais, não aparece na televisão e tem de se contentar em sofrer e esperar. Mas já aprendemos que ao sofrer e ao esperar não se pode acrescentar o calar.
Por isso iremos continuar a dar voz à Flavia. Com tua voz,a da Leila, com a de todos nós que estamos com ela e contigo, prosseguiremos a denúncia e o inconformismo. Não nos vencerão pelo silêncio.

Unknown disse...

Parabéns a Leila, que com este post mostra toda a sua coerência e sensibilidade na análise dos factos.
Quanto à justiça não ser igual para todos, já todos o vimos embora sempre se fale em igualdade ela não existe, tudo não passa de blá blá blá. O rico, o poderoso sempre tem forma de se escapar e fugir às suas responsabilidades, a menos que seja uma pessoa justa e consciente.

É triste muito triste Odele, mas é a verdade.

Peço desculpa pela ausência mas não me tem sido possível postar nem visitar os blogues que gosto de seguir.

Beijinhos,
Ana Martins

Elvira Carvalho disse...

Bom vamos a ver se é desta. É que depois do pc vir da oficina, só por aqui andei umas horitas e foi-se a internet. Ou seja, primeiro tinha internet não tinha pc, e depois vice-versa. Como isto é um casal muito unido um não faz nada sem o outro e daí que eu tenha desaparecido de novo.
Levamos a vida a esperar que os nossos sonhos de Justiça, Liberdade, e Paz, sejam o futuro e desesperamos por ficar tudo na mesma.
Um abraço

R.Almeida disse...

Uma panoramica focalizada num Brasil, de forma incisiva que retrata com pequenas diferenças todo o mundo onde vivemos, o qual é escravizado perante o poder do dinheiro. Roubar, matar, extorquir tudo é permitido desde que se preencham os requisitos minimos para o fazer, e cuja essência é uma carteira bem recheada.
Nada importam os valores e principios base do ser humano, nem o sofrimento, as dores e os danos causados quando o dinheiro fala mais alto. O homem torna-se no maior pesadelo de si mesmo, quando num mundo temporal ele podia ser o sonho em algo que é efémero e passageiro, mas que é de extrema importância pois é aquilo a que chamamos vida e que alguns teimam em infernizar, pois tudo gira em torno do brilho ofuscante do vil metal.

Unknown disse...

Aqui sucede o mesmo Odele, precisamos que os juízos trabalhem, há muitíssima gente humilde esperando uma resolução...e enquanto???...como solucionamos os problemas sem dinheiro???
Nos casos dos meninos, não podem esperar que seus expedientes durmam nas escrivaninhas, é necessário um já um agora!!!...ou crêem os empregados que os pais recorrem porque lhes agrada iniciar um trâmite!!!
Está assim a justiça: só para os casos rimbombantes...mis besitos y abrazos

Isabel Filipe disse...

Oi Odele ...

adorei ler ..
parabéns a Leila, uma vez mais, por este belo texto ... seus escritos são maravilhosos ... e nos prendem do principio ao fim ...

beijinhos
isabel

Betty Vernieri disse...

Odele,

Todos, dependemos uns dos outros, e penso que aí está a nossa humanidade - desde o útero materno até uma alma caridosa que cuide do nosso funeral.
Os poderes públicos têm o dever de cuidar dos cidadãos, assim como estes têm obrigações para com o estado.
Quando nessas relações não existem vias de mão dupla, instala-se o conflito. Sofre o indivíduo, sofre a sociedade.

Gostei muito do que a Leila escreveu, principalmente da frase que você destacou.

beijinho

Cybele Meyer disse...

Olá, Flavia

Venho lhe convidar para participar da Blogagem Coletiva “Consumo Consciente”. Não podemos ficar inertes diante de tanta agressão ao nosso Planeta. Precisamos mudar os maus hábitos e propiciar um Planeta melhor para nossos filhos.
Aguardo a sua participação.
Link http://migre.me/4QqU Deixe sua confirmação nos comentários
Abraços

Luma Rosa disse...

Odele, falamos da justiça como se fosse uma pessoa que faz escolhas. Lógico que ela é representada por juristas, mas creio que o maior erro do judiciário é se prender em leis que não olham o lado da aflição que sente os que clamam por ela.
Em um processo, o juiz sabe que sempre haverão insatisfeitos, alguém perde e alguém ganha. Olhando para o lado prático disso tudo, é inadimissível que uma pessoa tenha perdido para uma empresa: uma empresa que ao contrário das pessoas envolvidas não sente a dor, a desesperança! Mas ó! Tem a justiça divina, essa não falha!!

*obrigada pelo selinho!!

Bom fim de semana! Beijus

Anônimo disse...

ola Odele
gostaria de ajudar vc ,
Vc ainda corre atraz de justica ,mas tem um sonho muito maior que esse que vc procura.
eu vo fica a sua espera .
Fica com deus

Spirit_of_truth@hotmail.com

ROSANIA SOUZA E SILVA disse...

Odele,
Nós, pais do Brasil temos a obrigação de apoiar a petição ,já que estamos todos sujeitos ao descasos da justiça brasileira. Minha sobrinha de 9 anos sofreu um acidente em um clube também , mas foi uma queda de um lugar sem segurança no taboágua e eles nem deram a mínima... Ela perdeu os dentes da frente e teve que fazer cirurgia e implantes .Ficou por isso mesmo.

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